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CULTURA

O xamânico Carlos Malta

Carlos Malta faz tributo em JP a Baden Powell e Vinícius de Moraes.

Publicado em 10/09/2013 às 8:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 17:23

Foi numa igreja em Pernambuco, no domingo, que Carlos Malta alcançou o nirvana. "A gente tava tocando a música dos orixás dentro de uma igreja superlotada, parecia um culto. Um padre que estava lá dentro disse que aquela era a maneira mais franciscana de promover a fé", conta o músico carioca, que voltou ao Nordeste a convite do Festival Internacional de Música de Olinda (Mimo).

Aproveitando a ocasião para dar uma passadinha em João Pessoa, Malta apresenta-se hoje à noite na capital paraibana. "João Pessoa é o melhor lugar do Brasil para se fazer música porque você junta uma banda boa em cada esquina", elogia o flautista, um dos maiores entusiastas de Zabé da Loca, que mostra o repertório do show Saravá, Baden e Vinícius - Tributo aos Afro-sambas às 19h30, na Estação Cabo Branco, com ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

O show é uma homenagem ao disco de 1966 que, segundo Carlos Malta, rendeu influências para a sua carreira que ele mesmo não saberia estimar: "Os afro-sambas estão tatuados em minha pele", metaforiza o instrumentista, que organizou o repertório pela primeira vez em maio deste ano, quando foi convidado a celebrar a memória de Baden Powell (1937-2000) pelo Clube do Choro, em Brasília (DF).

"Muitas das músicas que estão gravadas naquele disco eu tocava nos meus shows sem lembrar exatamente que estavam reunidas em um mesmo LP", prossegue Malta. "Sem nem mesmo saber, eu compus várias canções que são afins ao universo sonoro dos orixás, influenciado pelo disco."

TIJOLO NA CABEÇA
Exemplos disso são as canções 'Oxóssi' e 'Canto de Oxum', que estão inclusas no set-list da noite e foram compostas em um processo quase 'mediúnico': "Foram músicas que eu fiz na natureza, quando sai para tocar com a flauta e a letra veio, como se estivesse recebendo uma mensagem. Tem músicas que a gente tem que ficar burilando, mas tem outras que vêm como um tijolo em nossa cabeça, com letra, música e arranjo, como uma mensagem que precisa ser codificada e digerida", brinca.


E a faceta transcendental da música é o que parece mover o artista que, ainda este ano, lança no Brasil o registro de um show que fez com o grupo Pife Muderno na Cidade Perdida, na China, em 2011. O álbum, ainda sem título prévio, entra em fase de masterização depois de amanhã.


"É uma coisa linda e emocionante quando a música acontece dentro deste espectro de exuberância. A música é um troço assim que faz as pessoas transcenderem, saírem do chão", diz ele, relembrando outros momentos marcantes junto com o Pife Muderno naquele mesmo ano: a estreia no Carnegie Hall, em Nova York (EUA), em evento com a curadoria de Gilberto Gil, e apresentação com a Orquestra Petrobras Sinfônica, no Rio de Janeiro.


"Foi espetacular ver uma banda de pífanos diante de uma orquestra sinfônica", descreve. "Os músicos da orquestra chegavam a desencostar da cadeira, porque a música popular, além de exigir erudição, também exige uma certa energia."


Os dois momentos ocorreram pouco depois de Carlos Malta, coincidentemente, passar pela Paraíba, em maio de 2011, no ainda aberto Espaço Cultural José Lins do Rego, onde fez show, palestra e oficina. Malta voltou ao Estado ano passado, mas então à paisana, para curtir as férias ao lado da namorada.


"Em João Pessoa eu estou entre irmãos. Fiz questão de, depois do show em Olinda, defender alguns discos meus para levá-los pra cidade. Eles se esgotaram em poucos minutos", exalta o músico, que traz na bagagem o CD Pimenta (Delira Musica, R$ 7,90), tributo a Elis Regina que saiu de forma independente, em 1999, e foi reeditado este ano pelo selo de Luciana Pegorer e Marcelo Pera.


A ideia de Carlos Malta é que o tributo a Baden Powell e Vinícius de Moraes (1913-1980) também saia em CD, ao vivo, em parceria com o Canal Brasil.

Imagem

Jornal da Paraíba

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