Olhar de paisagem

O olhar de Rodrigues Lima foi praticamente "educado" a ver as coisas do alto. Nascido em Itatuba, no topo da Serra Velha (no Agreste, a 120 quilômetros de João Pessoa), aprendeu a enxergar o litoral de João Pessoa de cima, como se estivesse encarapitado em sua terra natal.

"A característica do meu trabalho se dá por esta observação panorâmica. Eu pinto tudo visto do alto", reconhece o artista que abre hoje, às 20h, a individual A Paisagem de Rodrigues Lima no Centro de Turismo e Lazer do Sesc Cabo Branco. A exposição fica em cartaz até o final de setembro. A entrada é gratuita.

As cerca de 30 obras (algumas são polípticos - conjunto composto por mais de uma peça) retratam o ambiente de uma cidade urbana, mas que não perdeu seu ar bucólico, sendo ainda uma das metrópoles mais arborizadas do país.

Tal aspecto se comunica diretamente com as pinturas em óleo e acrílico sobre tela e também sobre madeira, já que Rodrigues Lima tem utilizado um suporte inusitado, recentemente: a madeira obtida com árvores da capital.

"Eram árvores já derrubadas, como as que de vez em quando caem no campus da Universidade Federal da Paraíba", diz ele.

A maioria dos trabalhos foram feitos recentemente, mas há também mostras de sua carreira que datam de quase uma década atrás.

Uma das mais significativas desta nova fase da trajetória de Rodrigues Lima é 'Contemplação', uma pintura monocromática, em tom sépia, com dimensões100 x 150 cm que, segundo o seu criador, representa um caminho para uma futura série. "Eu chamo a atenção para uma outra estética até então ausente no meu trabalho, observando os prédios demolidos no Centro Histórico de João Pessoa", explica.

'Contemplação' tem pequenos toques de surrealismo, misturando na paisagem frutas tropicais que brotam das fendas das paredes dos casarões desmoronados. As frutas remetem-se ao seu passado na Serra Velha. "As memórias de lá são muito fortes e se refletem na minha pintura", conclui.