CULTURA
'Operação Red Sparrow' usa fotografia estilosa para tentar esconder narrativa vazia
Embora seja bonito aos olhos, longa é ineficiente em criar o mínimo de tensão ao longo de sua exibição.
Publicado em 01/03/2018 às 19:14 | Atualizado em 07/03/2018 às 17:27
OPERAÇÃO RED SPARROW (EUA, 2018, 140 min.)
Direção: Francis Lawrence
Elenco: Jennifer Lawrence, Joel Edgerton, Matthias Schoenaerts, Charlotte Rampling, Mary-Louise Parker, Jeremy Irons
★★☆☆☆
Operação Red Sparrow (Red Sparrow, 2018), que estreia nos cinemas da Paraíba nesta quinta-feira (1º), é vendido como um thriller de espionagem com personagens dúbios, uma complexa trama que envolve os serviços secretos russo e americano, um envolvente e perigoso romance proibido e muita nudez e sensualidade. Pelo menos é isso o que ele tenta ser.
Dirigido por Francis Lawrence (Eu sou a lenda), que trabalha com a estrela Jennifer Lawrence pela quarta vez (ele a dirigiu em três dos quatro filmes da franquia Jogos Vorazes) -, o filme conta a história de Dominika Egorova (Lawrence), uma dançarina russa da companhia Bolshoi que é forçada a sair dos palcos após quebrar a perna em uma das apresentações. Sem dinheiro para pagar o tratamento da mãe doente, Dominika acaba testemunhando um assassinato cometido por agentes do serviço secreto russo e recebe duas opções: virar uma espiã do Serviço de Inteligência Estrangeiro ou "ser eliminada".
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A jovem escolhe a primeira alternativa, e é levada para ser treinada em uma escola de sparrows - agentes do governo especializados em usar o corpo e o sexo para extrair informações. E essa é a desculpa perfeita para o filme exibir corpos nus sempre que pode - e, principalmente, para exibir Jennifer Lawrence sem roupa pela primeira vez no cinema.
Isso obviamente não seria nenhum problema não fosse pelo fato de que Operação Red Sparrow está provavelmente destinado a ser lembrado apenas por sua estética. Fazendo jus ao título, a atriz é filmada constantemente em ambientes com tons rubros, ou utiliza roupas vermelhas, ou está banhada em sangue. A digna atuação de Lawrence, a fotografia e a direção de arte deixam o longa belo e elegante, mas não há muito mais o que ver além disso quando o roteiro é confuso e parece recorrer constantemente a plot twists para tentar prender a atenção do público.
Embora comece de maneira promissora, o filme logo se transforma em uma interminável sucessão de acontecimentos que, embora desfrutem de lógica interna, revelam uma inépcia em transformá-los em uma narrativa una e coesa que provoque o efeito de tensão desejado. É quase como se o espectador - que não poderia se importar menos com tudo isso - assistisse a eventos isolados envolvendo uma espiã russa e uma série de outros personagens irrelevantes.
Nessa falha tentativa de suscitar suspense e perigo, o longa ressuscita o espírito da Guerra Fria ao retratar uma disputa secreta entre Rússia e Estados Unidos. Não vai surpreender a ninguém o lado para o qual Operação Red Sparrow pende para advocar: os americanos representam sempre o peso positivo da balança; seus agentes são, de alguma forma, mais persuasivos ou inteligentes ou humanos que os inimigos. A Rússia, por sua vez, é vista como antro corrupto que prostitui e pune seus próprios cidadãos de forma brutal e arcaica.
O bom-mocismo americano é personificado desta vez por Nate Nash (Joel Edgerton), agente da CIA que acaba se envolvendo com Dominika e persuadindo-a a se transformar em uma agente dupla. O romance que se estabelece entre ambos é capenga e inverossímil, e os dois atores não conseguem desenvolver química alguma entre si.
Operação Red Sparrow, embora estiloso, é ineficiente em criar o mínimo de tensão em seus longos 140 minutos de exibição e apresenta um casal de protagonistas que, se competentes em suas atuações individuais, falham em convencer como par romântico. Ao sair do cinema, o espectador não pode evitar sentir que passou as duas últimas horas encarando um trabalho superficialmente belo, mas esvaziado de qualquer sentido.
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