CULTURA
OPINIÃO: Artistas paraibanos e a ‘plateia na Kombi’
Pesquisa mostra que consumidores de arte ‘saem de casa’ para acompanhar eventos em média de três vezes por ano.
Publicado em 16/09/2018 às 7:00
Impressionante como os fazedores de arte e cultura na Paraíba não prestigiam seus pares. Não é tarefa fácil achar artistas acompanhando eventos autorais no Estado. Impossível formar plateia se nem os próprios artistas se dão ao trabalho de ver a produção de seus parceiros... É cada um por si...
Uma pesquisa mostra que maior parte dos consumidores de arte ‘saem de casa’ para acompanhar eventos culturais uma média de três vezes por ano. Três vezes por ano!!! Os melhores colocados nesse ‘ranking’ – uma minoria da minoria! – costumam frequentar eventos culturais uma vez por mês... Mas, esse é um assunto para mais adiante...
O camarada, por exemplo, faz teatro, mas não fortalece a própria cena, dando de ombros para ‘espetáculos locais’. O mesmo artista não perde a oportunidade de assistir a produções nacionais e internacionais. Sempre escutei a brincadeira de que a torcida do Auto Esporte cabe em uma Kombi... Pois bem: alguns artistas preferem ‘plateias em uma kombi’...
E imagine que tenhamos que determinar que meio de transporte os artistas usariam para acompanhar os eventos culturais de suas específicas categorias... O pessoal da música – ostentação pura! – iria de ônibus (lotado) e voltaria de uber...
Nesse esquema de ‘mobilidade cultural’, o pessoal que faz cinema iria de van (a maior que tiver), mas o povo do teatro iria em um kombão. Um sedã XG bastaria para aqueles que acompanham a literatura.
O mesmo sedã de luxo poderia ser usado para transportar os artistas plásticos que acompanham vernissages e palestras de seus parsas. Na área de História em Quadrinhos, cartões de Passe Legal resolvem...
Dança e Circo são as áreas mais preocupantes. Os profissionais (e amadores protagonistas) dessa área quase não se dão ao trabalho de acompanhar as atividades desempenhadas em suas respectivas áreas. São ilhas cercadas de isolamento por todos os lados...
Para o transporte da galera do circo, basta uma bicicleta com bagageiro (opcional). Essa turma sabe pedalar, mas detesta assistir aos pedalantes. Se não fossem de circo, já teriam parado... Já para o pessoal da dança... um patinete e um empurrão. Um bom empurrão!
Pesquisa
Uma pesquisa com brasileiros residentes em 12 capitais do País acaba de ser realizada pela JLeiva Comunicação em parceria com o Datafolha, com o incentivo da Lei Rouanet. A Pesquisa Cultura nas Capitais apontou como esses brasileiros consomem diversão e arte, em Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e São Paulo.
Os resultados mostram que a leitura (68%) é a atividade cultural favorita da população das capitais, que também tem o hábito de ir ao cinema (64%) e a shows (46%). Assim, literatura, cinema e música são os produtos culturais mais procurados, conforme o estudo realizado nas 12 capitais.
O grau de escolaridade, conforme o estudo, é um fator determinante para o consumo de atividades e bens culturais. A população que tem ensino superior completo consome mais em todas as áreas abordadas na pesquisa: livros, cinema, shows, festas populares, feiras de artesanato, bibliotecas, dança, museus, teatro, circo, saraus e concertos.
Em relação à regularidade no consumo, 33% da população frequenta entre três e cinco atividades culturais ao ano, enquanto 32% disse ir a dois eventos ou menos. Já 23% tem o costume de ir a eventos artísticos e de diversão entre seis e oito vezes ao ano, e 12%, entre nove e 12 vezes, a taxa mais alta.
O consumo de eventos e bens culturais gratuitos é maior: 32% da população disse só consumir esse tipo de atividade, enquanto apenas 8% declarou consumir somente atividades pagas. A intenção de consumo é maior entre as mulheres. A distância entre a taxa que mede a vontade de comparecer a atividades culturais e a frequência é menor entre os homens.
No caso dos museus, por exemplo, ainda que 60% do público feminino tenha planos de ir a exposições e mostras, apenas 29% chega a comparecer de fato a essas atividades, uma diferença de 31 pontos percentuais. Entre os homens, a distância é de 19 pontos. Nem todos desejam consumir. E entre os que desejam... nem todos consomem!
No final das contas temos uma situação que é de ‘fome cultural’. Os números mostram que o consumo de cultura é baixo. Há falta de dinheiro e de interesse. As evidências apontam para uma falta de ‘formação de time’ no meio cultural. Há falta de dinheiro e de interesse. Desse jeito, a plateia continuará cabendo em uma Kombi...
* Jamarrí Nogueira é repórter da CBN João Pessoa e escreve sobre arte e cultura para o Jornal da Paraíba aos domingos
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