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CULTURA

OPINIÃO: O lugar do negro e o negro no seu lugar

Jamarrí Nogueira pega carona do Dia da Consciência Negra para questionar: 'Somos todos humanos...?'

Publicado em 25/11/2018 às 7:00 | Atualizado em 26/11/2018 às 13:28


                                        
                                            OPINIÃO: O lugar do negro e o negro no seu lugar

Fui visitar um amigo no Cabo Branco, bairro nobre de João Pessoa. Coisa rápida. Encontro de trabalho. O prédio onde o amigo mora tem um apartamento por andar. Fica a uns 100 metros da praia.

Resolvo o que preciso resolver. Me despeço. Desço. Do lado de fora do prédio, enquanto subo em minha moto, olho para cima e vejo meu amigo na varanda. Ele acena e faz sinal de positivo com o polegar.

Neste exato momento, para um homem em um carro de luxo bem em frente ao edifício onde mora meu amigo. Ele baixa o vidro elétrico. Olha para meu amigo. Desce do carro e grita ‘simpaticamente’ olhando para a varanda: “Você trabalha aqui????”

>>> Veja todos os artigos de Jamarrí Nogueira

Meu amigo escuta, mas parece não acreditar: “Como?”, diz ele, com ar de surpresa. O macho-adulto-branco-sempre-no-comando repete a pergunta: “Você trabalha aqui?”. E complementa: “Estou procurando apartamento”.

Meu amigo não responde à pergunta feita no primeiro momento, mas – educadamente – orienta o rapaz a procurar a portaria, destacando que seria possível haver com o porteiro a informação sobre imóveis para locação ou venda. Só lembrei do protagonista de ‘Corra’, um excelente filme de terror que aborda o racismo...

O macho-adulto-branco-sempre-no-comando (igualzinho àquele cantado por Caetano Veloso) agradece com um sorriso. E vai até a portaria. Acelero e vou embora. Nem sei que informação ele recebeu. E torço para que não encontre imóvel no edifício onde meu amigo mora...

Desvantagens históricas

As estatísticas de cor ou raça produzidas pelo IBGE mostram que o Brasil ainda está muito longe de se tornar uma democracia racial. Brancos ganham mais dinheiro e sofrem menos com as taxas de desemprego.

Os brancos são maioria entre os que frequentam o ensino superior, por exemplo. Já os indicadores socioeconômicos da população preta costumam ser bem mais desvantajosos. Importante lembrar que o Brasil foi o último país do mundo a acabar com a escravidão.

Após 130 anos do fim da escravidão, os negros permanecem muito marginalizados e excluídos. É uma dívida histórica que os brancos não querem pagar! Em um panorama tão recente e tão contemporâneo de exclusão ainda há quem fale em meritocracia...

Somos todos humanos...?

Dados do IBGE mostram uma diferença brutal entre brancos e negros... Se o problema é o analfabetismo, 4,2% dos analfabetos são brancos e 9,9% são negros! Mais que o dobro!!! A taxa de desocupação entre brancos é de 9,5%, mas sobe para 28,1% entre negros e pardos.

A diferença racista a gente percebe no bolso... O rendimento médio de todos os trabalhos, conforme o IBGE, era de R$ 2.814 para brancos. Sabe quanto para os negros? R$ 1.570! Brancos querem negros pobres e marginalizados. E se assustam quando eles saem da ‘senzala’.

Há alguns dias, quando da celebração do Dia da Consciência Negra, vi nas redes sociais postagens contrárias aos que festejam esse dia. O ‘argumento’ apresentado é de que “somos todos humanos” e não devemos nos dividir em negros, brancos e amarelos...

'Ei, menino branco...'

Estão todos a serviço do racismo e da opressão. Brancos se achando no direito de ditar as regras para negros... Ai, ai, ai, menino branco. É como naquela canção – ‘Mais do mesmo’ -“por que você não me deixa em paz???”

Meu amigo – aquele que foi confundido com funcionário do prédio - é negro. E somente recebeu a indagação dessa forma (‘Você trabalha aqui?’) por ser negro. Fosse branco e escutaria: “Boa noite, senhor. Desculpe-me por incomodar... É bom morar aqui?”.

Impressionante como brancos conseguem ser simpaticamente racistas e como a ‘casa grande’ não admite que os negros saiam da ‘senzala’... Lugar de negro é onde ele sonhar. Lugar de negro é onde ele quiser!

* Jamarrí Nogueira escreve sobre arte e cultura no Jornal da Paraíba aos domingos.

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Aline Oliveira

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