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CULTURA

OPINIÃO: 'Um time que não joga para a torcida'

Jamarrí Nogueira relata um papo com amigos durante uma partida de futebol... só futebol?

Publicado em 06/01/2019 às 7:00 | Atualizado em 07/01/2019 às 10:07


                                        
                                            OPINIÃO: 'Um time que não joga para a torcida'

				
					OPINIÃO: 'Um time que não joga para a torcida'

De onde a gente menos espera... é que não vem nada mesmo! Alguns amigos têm me dito que me tornei uma pessoa de pensamentos negativos para com o futuro político do Brasil e até para com os rumos de nossa jovem democracia e de nossa cultura. Dizem que estou ‘agourando’ o atual presidente da República e que não tenho razões substanciais para me preocupar, por exemplo, com o panorama econômico nacional.

O fim do Ministério da Cultura é apenas um detalhe, conforme meus amigos. Ainda segundo eles, artistas vivem querendo mamar nas tetas do governo. Nesse novo panorama, segundo eles, lasquem-se os artistas. O mesmo vale, de acordo com eles, para ativistas negros e gays. "É muito mimimi", disse - risonhamente - um de meus amigos... "Importante - completou - é torcer para que tudo dê certo". Até lembrei daquela seleção italiana de futebol que apoiava um regime fascista...

E estávamos assistindo a uma partida de futebol quando esse papo começou a rolar. Partida modorrenta, entre o ‘nada acontece’ e o ‘nada é feito’. Ainda assim, uma partida boa de assistir (porque é sempre muito tranquilo assistir a jogos que não são do seu time). Diante das colocações que apontavam para meu ‘olhar negativo’, comecei a comentar a partida e sugeri aos colegas uma louca formação de plano tático para um dos times...

É só futebol?

Disse que o caminho da vitória seria apostar em um time com apenas um zagueiro e com um goleiro de baixa estatura. Também propus o meio-campo com apenas um volante e um ‘maestro’. Obviamente, meus amigos perguntaram onde ficariam os demais jogadores... respondi que o esquema tático previa sete jogadores no ataque (maior parte lesionada). Eles riram, claro!

Diante desse esquema-aberração, afirmaram que jamais poderia dar certo uma formação como essa, onde sete atacantes seriam alimentados por jogadas orquestradas por apenas um armador. Pior, disseram eles, seria o contra-ataque favorecido por ter à frente apenas um volante, um zagueiro e um goleiro de baixa estatura.

Meus amigos foram unânimes em afirmar que esse plano tático era praticamente um suicídio e que faria sofrer a torcida inteira daquele time. Um deles disse, inclusive, que não seria capaz de torcer por seu próprio time caso ele anunciasse uma tática doida como essa. Porque um time que adota estratégias assim está condenado ao fracasso total. Pior: à vergonha!!!

Sorri levemente, mas ainda não tive coragem de revelar a eles a analogia clara com a futura gestão presidencial. Segui divagando... Disse que se a estratégia não fosse eficiente, bastaria comprar o juiz e os bandeirinhas. Comprar o juiz é sempre muito eficiente. Poderia até prometer ao juiz um cargo na diretoria do time após o título. Meus amigos riram mais ainda... Eu me contive...

Juiz comprado

Então, propus algo ainda mais tenebroso: a fórmula perfeita para que esse time com apenas um volante, um zagueiro, um goleiro de baixa estatura e sete atacantes pudesse ser campeão – além de comprar o juiz – envolvia a necessidade de tirar de campo, através do ‘tapetão, o outro time favorito ao título... E ainda espalharíamos umas notícias falsas para desabonar a moral dos adversários...

Meus amigos só pensavam em futebol e continuavam rindo. Eu não. Até sorri levemente outra vez. Nem tive coragem de dizer a eles que é impossível torcer por um time que adota estratégias claras contra a torcida. Também não quis dizer que o ‘tapetão’ era mais comum e próximo de nós do que eles imaginavam.

Pensei em dizer para eles que os torcedores desse time jamais conseguiriam se aposentar e torceriam até os dentes caírem... Também pensei em dizer que os ingressos nos estádios teriam valor triplicado. Policiais e seguranças nos estádios deteriam – e até atirariam – em qualquer torcedor que não fosse ‘cidadão de bem’...

Pensei, mas nem disse... Esse time de composição surreal e estratégias desrespeitosas acabará com a torcida e, ainda assim, há torcedores empolgados com o título. Torcedores pobres, negros e gays sofrerão mais. Torcedoras sofrerão bastante. Sairemos todos perdendo porque esse é um time que não joga para a torcida...

Não é, obviamente, uma questão ser ‘agourento’ ou de ter um alto grau de pessimismo. Esse time ganhar significa que grande parte dos torcedores sairá perdendo. Torço para que Deus exista e que tenha piedade de nós. Porque o time que conquistou o título não terá piedade alguma...

* Jamarrí Nogueira escreve sobre arte e cultura no Jornal da Paraíba aos domingos.

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Aline Oliveira

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