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CULTURA

Os monstros de Hitchcock

Produzido em 2012, documentário ‘The Birds: O Filme de Monstro de Hitchcock’, lança luz sobre a obra-prima de Alfred Hitchcock.

Publicado em 06/08/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 15:20

O inédito ‘The Birds: O Filme de Monstro de Hitchcock’, documentário produzido em 2012 que integra os extras da edição em blu-ray de Os Pássaros (The Birds, 1963), seminal obra-prima de Alfred Hitchcock (1899-1980), lança luz sobre a genialidade e a inovação que o diretor inglês trouxe ao cinema há exatos 50 anos.

Mestre na arte de thrillers psicológicos, Hitchcock deu uma guinada em sua filmografia ao imprimir terror em um ambiente asséptico como o das aves domésticas que, sem qualquer motivo aparente, atacam ferozmente os habitantes de uma pequena cidade litorânea da Califórnia.

"O monstro não era mais um vilão que foi criado, como Frankenstein, Drácula ou a múmia. Agora era essa coisa que estava bem em nosso quintal ou na árvore próxima a casa. Então Os Pássaros foi uma ponte entre o filme clássico de monstro dos anos 30 ou 50 e o filme de monstro que vemos hoje", conceitua o escritor John William Law, autor do livro Alfred Hitchcock: The Icon Years (1999).

O especial de 14 minutos segue mostrando a influência de Os Pássaros em filmes contemporâneos como Ataque dos Vermes Malditos (1990), A Múmia (1999) e, sobretudo, Tubarão (1975), com depoimentos de diretores como Joe Dante (Piranha) e Wes Craven (O Enigma do Outro Mundo).

Os Pássaros narra a história de Melanie Daniels (Tippi Hedren), uma jovem que se faz passar por uma vendedora de pet shop quando conhece Mitch (Rod Taylor), que busca um casal de aves para a irmã caçula que está aniversariando.

Algum tempo depois, ela decide ir atrás do homem e levar os pássaros de presente na litorânea Bodega Bay. Mas lá é atacada por uma orda crescente de aves e se vê acuada na casa de Mitch pelos pássaros e pela destemperada mãe dele, Lydia (Jessica Tandy).

Em outro dos inúmeros extras do blu-ray, Hitchcock conversa com seu colega francês François Truffaut (papo que foi parar no livro Hitchcock Truffaut). Diz, no áudio de 13 minutos, que Os Pássaros é um filme sobre duas mulheres: a mãe (Tandy) e a protagonista (Hedren).

A edição ainda traz o famoso teste de Tippi Hedren para o papel - o episódio é um dos pontos chaves do telefilme The Girl, lançado no ano passado, abordando a relação obsessiva que o Hitchcock tinha por sua atriz, que passou maus bocados nas mãos do diretor durante as filmagens.

Além do filme com uma nova e impressionante restauração e a tonelada de extras (tudo devidamente legendado em português), a embalagem ainda traz um pôster de tecido do filme e um card.

PACOTE

Os Pássaros sai em um pacote de quatro filmes de Hitchcock que a Universal desmembrou da caixa A Obra Prima (2012), e agora os comercializa avulso.

O pacote inclui outra obra-prima do mestre: Janela Indiscreta (Rear Window, 1954). Estrelado por James Stewart, narra a história de um fotógrafo que passa seus dias de molho a observar a vizinhança, até que suspeita que um vendedor pode ter assassinado a esposa.

Janela Indiscreta também é farto em material extra, incluindo o papo de Hitchcock e Truffaut sobre o filme e comentários em áudio do escritor John Fawell (autor de um livro sobre os bastidores do filme), também com legendas em português.

Considerados “menores”, mas extremamente relevantes, também chegam às lojas O Sabotador (Saboteur, 1942), primeiro filme do diretor na Universal, e Trama Macabra (Family Plot, 1976), derradeiro longa de sua filmografia.

CLÁSSICOS SÃO BEM TRATADOS

Tido como mídia “morta” antes mesmo de nascer, o blu-ray tem tratado bem os clássicos. Competindo com serviços de streaming pela internet e a pirataria física, as empresas têm recheado os discos de alta definição com cópias ultra-restauradas e edições fartas em extras.

No Brasil, isso tem propiciado aos fãs de cinema e colecionadores acesso a algumas obras fundamentais da história de maneira inédita.

Filmes como Asas (Wings, 1927), primeiro longa-metragem a ganhar um Oscar, recebeu uma restauração de primeira e foi lançado (pela Universal) repleto de extras, bem diferente da edição pífia que se conhece em DVD.

O mesmo para Nada de Novo no Front (All Quiet on the Western Front, 1930), filme resturado pelo Congresso Americano que no Brasil foi tratado com desdém em DVD. Em blu-ray, ganhou uma bela edição (também pela Universal), com direito até um livro sobre a obra do diretor Lewis Milestone.

Recentemente, O Cantor de Jazz (The Jazz Singer, 1927), primeiro filme falado da história, ganhou a edição que jamais teve em home-video. Lançado pela Warner Bros., teve restauração caprichada (elogiada pelo site especializado Blu-ray.com) e bons extras.

A Warner e Universal têm feito boas edições de seus clássicos. Da primeira, destacam-se Cidadão Kane (1941), Casablanca (1942) e Cantando na Chuva (1952), que saíram tanto em edições especiais (com livros, discos extras e até uma capa de chuva), quanto simples. A segunda inclui filmes de Hitchcock (veja texto acima), a safra de monstros dos anos 20 e 30 (Drácula, etc.) e títulos como Golpe de Mestre (1973) e Tubarão (1975).

REEDIÇÕES TRAZEM WESTERN, SPIELBERG E STEVE MCQUEEN

A Warner é a que mais aposta na reposição de seu catálogo em blu-ray. Entre os lançamentos mais recentes, há dois filmes de Steven Spielberg, equivocadamente subestimados: Império do Sol (Empire of The Sun, 1987) e A. I. Inteligência Artificial (Artificial Intelligence: AI, 2001).

Em blu-ray, a imagem de ambos tem um ganho satisfatório, mas os extras são praticamente os que foram lançados nas edições especiais em DVD dos respectivos títulos (os bônus possuem legendas em português).

Outro destaque do pacote é o clássico western Onde Começa o Inferno (Rio Bravo, 1959), filme de Howard Hawks (À Beira do Abismo) estrelado por um trio notável: John Wayne, Dean Martin e Ricky Nelson. A edição vem recheada de extras (nenhum com legendas em português), mas a restauração não é das mais caprichadas. Fora de catálogo em DVD, é uma boa pedida no entanto.

Com ótima restauração, A Mesa do Diabo (The Cincinnati Kid, 1965), clássico subestimado de Norman Jewison (que dois anos depois faria No Calor da Noite) estrelado pelos tarimbados Steve McQueen e Edward G. Robinson é um ótimo investimento, apesar dos extras quase inexistentes.

Também ganha edição em alta definição (sem extras relevantes) Copycat – A Vida Imita A Morte (Copycat, 1995). Na década em que serial killer era moda no cinema, este suspense estrelado por Sigourney Weaver se mantém como um dos melhores filmes da época, ao lado de O Silêncio dos Inocentes (1991) e Seven – Os Sete Crimes Capitais (1995), ambos já lançados em blu-ray.

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Jornal da Paraíba

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