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CULTURA

Os tesouros escondidos de Amy

Cinco meses após sua morte, Amy Winehouse tem seu primeiro álbum póstumo lançado.O trabalho é o legado da cantora à soul music.

Publicado em 06/12/2011 às 6:30


Um ano antes da morte de Amy Winehouse, no último dia 23 de julho, já se falava que a cantora inglesa estaria compondo o sucessor da obra-prima Back To Black (2006). Muito se especulou, mas nada foi comprovado que Amy estivesse, de fato, em estúdio moldando seu terceiro disco quando foi encontrada morta, naquela triste manhã de sábado.

Portanto, o tão falado Lioness - Hidden Treasures (Universal Music, R$ 30, em média), que acaba de chegar às lojas de todo o mundo, não é um projeto de carreira de Amy, mas uma coletânea composta por gravações que ela fez entre 2002 e 2011, reunidas pelo “descobridor” da cantora, Salaam Remi, pelo produtor musical Mark Ronson (o mesmo que pilotou Black to Black) e pela família, na figura do pai, Mitch Winehouse.

Em recentes entrevistas, Remi declarou ter vasculhado dezenas de horas de gravações, e que extraiu o melhor que encontrou, restando quase nada para um segundo disco dessa linha. Amy Winehouse gravou pouco – deixou apenas dois discos de estúdio, Frank (2003) e o citado Back to Black – e um bom material de “extras” já foi utilizado nas versões de luxo desses álbuns.

Da nova garimpagem feita por Salaam Remi e submetida a Ronson e Mitch, foram reunidas gravações ‘demo’, versões alternativas de canções já lançadas por Amy, covers e até um material bruto, trabalhado após a morte da cantora. Ao todo, o primeiro disco póstumo de Amy Winehouse traz 12 faixas e embora tenha a irregularidade de uma coletânea de sobras, tem mais pontos positivos que negativos.

Há faixas de acabamento impecável, mas também muitos “arranjos”. Caso de ‘Like smoke’, que teve a dispensável complementação vocal do rapper Nas para uns versos que a cantora deixou gravado, ou a versão de ‘Garota de Ipanema’, cujo vocal foi extraído de uma demo de 2002 e casado com uma batida eletrônica moderna. A junção destoa do conjunto.

A primeira metade de Lioness reúne o melhor desse material. É um repertório de belas e amarguradas canções de amor que preservam a atmosfera de Back To Black, entre releituras de clássicos da música americana e do próprio repertório de Amy Winehouse.

O CD abre com ‘Our day will come’, gravação feita em 2002, um ano antes do lançamento de Frank. Emy tinha, então, 18 para 19 anos e ainda não fazia ideia que se tornaria um dos grandes nomes da soul music. Apostou numa versão reggaeira para esse estandarte regravado por nomes como Doris Day, Carpenters e até o garoto Jamie Cullum.

Na sequência, vem ‘Between the cheats’, parceria de Amy com Salaam Remi que foi gravada em 2008, com vistas a incluí-la no que viria a ser o terceiro álbum da cantora, e a versão original de ‘Tears dry on their own’ (aqui chamada apenas de ‘Tears dry’), gravada em 2005. Com andamento mais lento e refrão levemente diferente, ‘Tears dry’ ganhou cordas e uma melodia mais melancólica.

Ainda na primeira metade está a bela versão – gravada este ano, na companhia dos Dap Kings - para ‘Will you still love me tomorrow’, hit de Carole King. Nela, Amy Winehouse comparece em grande forma, com a voz já madura que apontava para o próximo trabalho.

Além de ‘Tears dry’, o CD inclui outras duas versões para hits de Amy Winehouse: uma regravação de ‘Valerie’, do primeiro disco, registrada em 2006, e a versão demo de ‘Wake up alone’, que viria integrar o repertório do segundo álbum, aqui com roupagem acústica.

O CD também traz a versão de estúdio para ‘Best friends’, inédita em disco, mas comum em shows da cantora (está, inclusive, no DVD ao vivo I Told You I Was Trouble) e uma parceria de Amy com Questlove, do The Roots em ‘Halftime’, outro encontro da cantora com Salaam, registrado em 2002.

Lioness fecha com dois grandes estandartes: ‘Body and soul’ e ‘A song for you’. O primeiro foi gravado este ano em dueto com o octagenário Tony Bennet. Na gravação, que viria a ser a última da cantora, Amy se esforça para soar como Ella Fitzgerald, cuja interpretação para ‘Body & soul’ permanece insuperável.

Já a notória canção de Leon Russell, regravada por gente como Ray Charles, Billy Paul e Donny Hathaway, soa esquisita. Consta que foi gravada em um único take, na casa de Amy, na primavera de 2009. Embora exiba um vozeirão descomunal, ela parece pouco à vontade com a música, mesmo tendo em mente a interpretação de Hathaway, seu ídolo, o que a leva a comentar, ao final da gravação: “Marvin Gaye é ótimo, mas Donny Hathaway... ele tinha alguma coisa, sabe?!”.

Embora Lioness – Hidden Treasures não esteja à altura de seu antecessor, Back to Black, não deixa de ser um belo testamento de uma cantora acima da média.

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Jornal da Paraíba

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