Pablo Neruda foi envenenado durante golpe militar chileno, concluem cientistas

Uma perícia internacional concluiu que o poeta chileno Pablo Neruda foi envenenado. Ele morreu nos primeiros dias do golpe militar no Chile, em 1973. Os cientistas determinaram que a bactéria nos restos mortais do poeta estava no seu corpo na hora da morte, o que contraria a versão oficial de que complicações de um câncer de próstata teriam motivado seu óbito.

Especialistas da Universidade McMaster, no Canadá, e da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, divulgaram hoje (15) um relatório que determina a presença da bactéria “clostridium botulinum” em dente de Neruda, um bacilo comumente encontrado no chão, mas que segundo os pesquisadores não vazou do cadáver do escritor ou ao redor do caixão, mas que estava em seu corpo antes de morrer. 

O mistério segue porque resta saber como e quem introduziu a toxina botulínica no corpo do autor. "Agora sabemos que o 'clostridium botulinum' não deveria estar na ossada de Neruda. O que isso significa? Que Neruda foi assassinado, houve intervenção em 1973 por agentes do Estado", disse Rodolfo Reyes, sobrinho do vencedor do Nobel de Literatura de 1971.

O antigo motorista do escritor, Manuel Araya, afirmou durante décadas que ele teria sido envenenado após levar uma injeção no abdômen por um agente secreto do regime que se passou por um médico da Clínica Santa María, em Santiago.

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A morte do escritor é investigada há 12 anos

Em 2011, uma investigação judicial foi aberta para determinar se a morte foi causada por complicações do câncer de próstata ou envenenamento por agentes da ditadura de Pinochet. Os restos mortais do escritor foram exumados em abril de 2013 e, em novembro do mesmo ano, um grupo de especialistas chilenos e de outros países descartou a morte por envenenamento.

Apesar disso, a justiça chilena manteve aberta a investigação por considerar que os resultados não eram conclusivos e ordenou um novo exame, realizado apenas em 2016. Os resultados foram divulgados no ano seguinte por um painel de especialistas, que apontou a presença da bactéria do botulismo.

"Neruda não estava gravemente doente, só tinha câncer. Andava com dificuldade, sentia dores, mas não estava prestes a morrer", afirmou à EFE Elizabeth Flores, advogada da família, que atua como autora no caso iniciado em 2011 junto com o Partido Comunista, do qual Neruda era membro.

As conclusões do novo laudo deveriam ser reconhecidas em 3 de fevereiro, mas a audiência foi cancelada duas vezes. O motivo seria falhas técnicas e suposto desentendimentos entre os peritos.

*Com informações de Deutsche Welle