CULTURA
Páginas sangrentas
Jornalismo investigativo em 'Crimes que Abalaram a Paraíba'. Jornalista e escritor Biu Ramos lança 2ª edição nesta quinta-feira (15).
Publicado em 15/03/2012 às 6:30
Biu Ramos é de uma geração de repórteres que, aos jovens herdeiros do ofício, deixou a lição de que jornalismo investigativo se faz com intrepidez e tenacidade.
Jornalista que, na década de 1960 teve papel relevante na cobertura do assassinato de João Pedro Teixeira (1918-1962), líder das Ligas Camponesas, Biu Ramos lança hoje, em João Pessoa, a segunda edição de Crimes Que Abalaram a Paraíba (Forma Editorial).
Publicados originalmente nos anos de 1989 e 1995, os dois volumes voltam às prateleiras revisados pelo autor, que estampa em suas páginas algumas das tragédias que constam nos polêmicos autos criminais da Paraíba.
"Com estes livros, acho que cumpri minha missão de escritor", afirma Biu Ramos, que autografa sua obra logo mais, na Livraria do Luiz, às 17h. "O que eu tinha para escrever sobre a história e a política da Paraíba eu já escrevi".
Nome que assina, entre outros oito títulos, Memórias de um Repórter (1994) e Burity: Esplendor e Tragédia (2008), Biu Ramos lembra-se do crime que marcou sua carreira e, em suas palavras, "eletrizou" a opinião pública.
"A morte de João Pedro Teixeira teve uma repercussão impressionante. Toda a imprensa nacional noticiou o crime e até correspondentes da Times vieram para cá", conta.
PRECURSORES
Ao lado de colegas de profissão como Gonzaga Rodrigues (que aparece em foto no primeiro volume do livro, na primeira entrevista concedida pela viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira), Biu Ramos acompanhou as investigações do incidente coletando informações que registraram os desdobramentos do episódio e serviram de argamassa para o seu livro, esgotado tão logo foi lançado, em 1989.
"Estive lado a lado com o delegado Chico Maria em Sapé, seguindo as pistas que levaram aos responsáveis pela emboscada", conta.
"A imprensa paraibana teve atuância fundamental na elucidação do crime e minha pesquisa me permitiu fazer uma reconstituição e um relato frio do acontecimento", acrescenta.
Biu Ramos chegou a ser processado por Joacil Pereira, deputado estadual à época da tragédia e personagem citado no livro. "Fui processado por calúnia, mas o processo foi arquivado pelo Tribunal de Justiça", explica. "É perturbador você, um cidadão pacato, se ver de repente nas malhas da lei apenas porque escreveu a verdade. E quanto à liberdade de imprensa?", indaga-se.
Apesar dos percalços jurídicos, Biu Ramos nunca se intimidou nem interrompeu seus projetos. Além da narração do crime que abre o primeiro volume de seu livro, ele revela, no segundo volume, os meandros de outros crimes como a famosa 'chacina da praia do Poço'.
Ocorrida em fins da década de 1970, a matança também emergiu de um vasto arquivo pessoal e de um método de trabalho que Biu Ramos define como "meticuloso".
"Quando trabalhava como repórter, à medida que ia fazendo o noticiário, ia também guardando o que escrevia. Sempre fui muito cuidadoso na preservação de documentos que sabia terem importância histórica para Paraíba. Foi este cuidado que gerou todos os meus livros".
Inquirido se ainda acompanha as notícias diárias em busca de fatos que motivem, quem sabe, um terceiro volume de Crimes Que Abalaram a Paraíba, Biu Ramos diz que "não quer mais militar nesta área".
"Hoje as páginas criminais são diferentes das de 30 anos atrás. Além do mais, já cheguei aos 70. Agora pretendo me recolher", conclui.
Serviço
• Crimes Que Abalaram a Paraíba - vols. 1 e 2. Na Livraria do Luís (Galeria Augusto dos Anjos, Praça 1817, 88, Centro - João Pessoa - tel.: 3222-6790)
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