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CULTURA

Paraibano Ciro Fernandes é um pedaço do Nordeste no Rio de Janeiro

Com 73 anos completados no sábado (31), artista, um dos mais importantes nomes da xilogravura do país, mantém atelier no Sudeste.

Publicado em 01/02/2015 às 10:05 | Atualizado em 27/02/2024 às 17:49

Por muito tempo, a feira de São Cristovão, uma janela da cultura nordestina no Rio de Janeiro, foi o reduto do paraibano Ciro Fernandes, onde ele fazia suas xilogravuras para servir de cartão de visitas para vários poetas de cordel como o ‘Poeta do Absurdo’ Zé Limeira (1886-1954) e Mestre Azulão.

“A feira se prostituiu agora. Tem todo tipo de música”, lamenta o multiartista. “Mas ainda é um bom pedaço do Nordeste aqui no Rio”.

Com um câncer recentemente superado, o escritor, poeta, gravurista e pintor natural de Uiraúna, no Alto Sertão paraibano, completou 73 anos ontem. Sempre bem-humorado, ele prontamente diz não ter projetos, apesar de permanecer na ativa. “As coisas acontecem sem fazer planos”, explica, revelando que estava trabalhando no seu atelier em uma xilogravura com vários pássaros antes de atender a ligação da reportagem.
“A xilogravura nordestina deu um passo imenso com ele”, analisa Aderaldo Luciano, escritor e pesquisador paraibano, também radicado no Rio de Janeiro. “Infelizmente, Ciro não teve a visibilidade de um Gilvan Samico (1928-2013), mas ele é genial”.

Para Luciano – que cultiva a amizade com o artista desde que chegou ao Rio, há 15 anos – tal evolução se deve aos estudos que Ciro proporcionou em cima das técnicas. “O que ele faz não é uma xilogravura tradicional, é mais filosófica”, analisa. “Ele foi quebrando a ligação entre a xilogravura e o cordel”.

Na Cidade Maravilhosa, a sua técnica de xilogravura foi aperfeiçoada com auxílio de outro conterrâneo, o pessoense José Altino, um dos artistas pioneiros do Programa de Artesanato Paraibano.

Sua arte foi apreciada em diversas exposições pelo Brasil e pelo globo, a exemplo de mostras internacionais na Suíça, Alemanha e Dinamarca. A mais recente foi em 2013, na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro.

Ilustrou várias capas de obras como O Menino que Virou Escritor (José Olympio), livro de Ana Maria Machado sobre a infância do conterrâneo José Lins do Rego (1901-1957), e o disco Zé Ramalho: 20 Anos - Antologia Acústica (BMG). “Inclusive a capa do meu primeiro livro, O Auto de Zé Limeira (Confraria do Vento)”, aponta Aderaldo Luciano.

Ócio Criativo

Da sua infância em Uiraúna, ele puxa pela memória as leituras de cordel, romances e jornal que sua mãe – única alfabetizada de sua rua – fazia na soleira da residência. “Ela chegou a ler a notícia da morte de Getúlio (Vargas) e folhetos do repórter-cordelista Zé Soares (1914-1981)”.

A última vez que Ciro Fernandes visitou a sua terra natal foi ao final dos anos 1970. “Sinto saudade de tudo na Paraíba”, lamenta. “Eu gostava muito de caçar e de pescar. Chegava a fazer minha própria espingarda”, relembra.

Como de praxe, no final dos anos 1950, migrou para São Paulo, aos 17 anos, onde trabalhou em um açougue de um conhecido da Paraíba. Segundo Ciro, para não acabar com suas costas, pintando rodapés, propôs ao empregador para representar com sua arte bois e vacas nas paredes do estabelecimento comercial. Tudo para “ficar perto da menina”, a irmã do chefe, Dona Rita, com quem está casado há exatos 51 anos, celebrando as suas ‘bodas de bronze’.

Além de artista visual, Ciro também é escritor, especialmente dirigido para o público infantil. “Sou mais conhecido pela xilogravura, mas também sou pintor e desenhista”.
Dentre suas obras, lançou as aquarelas de Sonho de Papel (José Olympio) e Os Bichos Que Sei Fazer (Rovelle), esta última feita a quatro mãos com sua filha, Milena. “Quando era pequena, comecei a dar os lápis e ela pintava nas paredes do apartamento. Guardei os desenhos até hoje e tive a ideia de fazer o livro”, afirma.

Sobre o seu cotidiano, Ciro Fernandes continua com o seu bom-humor: “O que mais gosto de fazer hoje em dia é nada. Isso é uma beleza”, conta, aos sorrisos. “Gosto de pegar meu violão e tocar uma ‘Asa branca’ ou um Noel Rosa... e brigar com a Rita”.
Visitando o mestre no seu apartamento carioca após a entrevista, o pesquisador Aderaldo Luciano tem uma visão diferente sobre o dia-a-dia do mestre. “Ele trabalha sempre, todos os dias”, conta. “Além de tocar violão, ele também é um luthier. Tem várias carcaças de violão por lá”.

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Jornal da Paraíba

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