CULTURA
Paul faz show arretado
Paul animou o público com homenagens e sucessos do Beatles, sem esquecer do centenário de Luís Gonzaga.
Publicado em 24/04/2012 às 6:30
Um Paul McCartney suado, bem-humorado e com a disposição de um garoto de Liverpool deixou o palco montado no estádio do Arruda, na noite do último sábado, em Recife, dando ao público nordestino – já que a apresentação atraiu gente de toda a região – um gosto de show dos Beatles. Dos 35 números, 23 vieram de uma das bandas mais influentes de todos os tempos, que encerrou suas atividades em 1970.
Paul rebobinou a Up & Coming Tour, show que passou por São Paulo em 2010 e pelo Rio em 2011 e imortalizada no CD/DVD Good Evening New York City (2009). A nova On The Run Tour importa a maior parte dos números da turnê anterior e acrescenta poucas novidades. A principal delas, a nova ‘My valentine’, foi dedicada à atual mulher, Nancy Shevell, e ilustrada com imagens dos atores Natalie Portman e Johnny Depp, tal qual no videoclipe lançado este mês.
McCartney também acrescentou ‘Junior farm’ (single lançado pós-Band on the Run) e ‘The night before’ (do disco Help!), a qual fez questão de anunciar que era a primeira vez que cantava no Brasil. Outra novidade foi a belíssima ‘Maybe I’m amazed’, que dedicou à ex-mulher Linda McCartney (1941-1998).
Paul arrisca frases em português, sempre com um “cola” por perto. Afaga o público com um sonoro ‘Povo arretado!’, que faz o Arruda estremecer em êxtase. No domingo, arrancaria igual ovação ao pronunciar ‘Cabra da peste’, ‘Oxente’ e declarar ‘Salve a terra de Luiz Gonzaga’, em referência ao cantor, cujo centenário é celebrado este ano – reza a lenda que os Beatles chegaram a cogitar gravar ‘Asa branca’.
Apesar do ‘calor arretado’, Paul não para um segundo, nem sequer para beber água. Enfileira uma canção atrás da outra, alternando-se entre o baixo, guitarra e piano. ‘Jet’, ‘Let me roll it’, ‘Nineteen hundred and eighty five’ e ‘Mrs. Vandebilt’ animam a primeira parte com canções extraídas do disco que dá nome à turnê, Band on the Run (1973).
Homenageia os ex-companheiros, e, desta vez, os três. Dedica ‘Here today’ para John Lennon (1940-1980) e com um ukulelê (espécie de cavaquinho havaiano) em punho, mostra bela versão para ‘Something’, celebrando a memória de George Harrison (1943-2001). Ao final do número, exclama ‘Ringo’ e improvisa ‘Yellow submarine’, gravada originalmente pelo ex-baterista, e ausente do set list original.
A segunda parte – incluindo as duas voltas ao palco – só dá Beatles. - ‘Obla di obla da’ (que não estava na turnê anterior) é seguida por ‘Back in the USSR’, ‘I got a felling’, ‘A day in the life’ (que emenda com ‘Give peace a chance’, de Lennon), ‘Let it be’, ‘Live and let die’ (valorizada por uma cênica impecável de luzes e fogos) e ‘Hey Jude’.
Paul sai de cena e volta com a bandeira de Pernambuco em punho para novo delírio do público. Emenda ‘Lady Madonna’, ‘Day tripper’ e ‘Get back’. Nova saída e volta com o clássico dos clássicos: ‘Yesterday’, cuja interpretação voz e violão levantou mais uma vez a plateia, que não arriou com a sequência, ‘Helter skelter’, que, mesmo com a voz já combalida, McCartney mostrou bem (tanto que no show do domingo, trocou por ‘I saw her stand there’). Terminou com a já famosa trinca ‘Golden slumbers’/‘Carry that weight’/‘The End’.
SHOW FAMÍLIA
Com atraso de, pelo menos, uma hora, os portões do Arruda foram abertos no sábado. Do lado de fora, muitos grupos e famílias com várias gerações (do avô aos netos) se espremiam no meio da confusão crescente.
Contudo, isso não atrapalhou a disposição dentro do estádio. Das cadeiras, onde a reportagem teve uma visão geral do público (e de onde se enxergava Paul do tamanho de um Playmobil), via-se o calor com que Paul foi recebido pela multidão de 50 mil pessoas (30 mil no domingo).
Embora as os cartazes ‘NA’, levantados durante ‘Hey Jude’, não tivessem o impacto, originalidade e número das que fizeram história no Rio de Janeiro, ano passado, McCartney notou – e até brincou com – as máscaras que fizeram com seu rosto. No domingo, um ‘Boneco de Olinda’ também homenageou o ex-Beatle.
Mesmo tocando praticamente o mesmo repertório há anos, o quase septuagenário (completa 70 anos em junho) ex-Beatle oferece um show como a energia de uma banda que acaba de chegar aos estrelato. Faz merecer o carinho e a consideração que os fãs têm para quem compôs a trilha sonora de toda uma vida.
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