CULTURA
Pesadelo cinquentenário
Com 33 filmes, José Mojica Marins completa 60 anos de carreira; data coincide com aniversário do personagem Zé do Caixão.
Publicado em 13/11/2013 às 6:00 | Atualizado em 27/04/2023 às 13:19
Tudo começou com um pesadelo. Um homem trajado de preto dos pés à cabeça arrastava José Mojica Marins, então com 27 anos, rumo a uma cova de sete palmos. Ao acordar, o jovem paulistano que dirigia faroestes em 75mm não era mais o mesmo: nascia Josefel Zanatas, filho de um magnata das agências funerárias que viu a ‘cobra fumar’ na Segunda Guerra Mundial e, depois de matar a ex-noiva e o prefeito da sua cidade, ganha o epíteto de Zé do Caixão.
Os 50 anos do mais famoso personagem do terror tupiniquim (conhecido lá fora pelos amantes do B movie como Coffin Joe) coincidem com os 60 anos de carreira de um dos nomes mais proeminentes do cinema independente brasileiro: com 33 filmes no currículo (sete deles com o seu alterego macabro), José Mojica Marins contrariou os prognósticos até do público mais visionário.
“Você vai durar dois, três anos”, dizia Glauber Rocha, no início da carreira do amigo que fez À Meia Noite Levarei Sua Alma (1963), primeiro título de uma trilogia que finalizou recentemente, com sobras de negativos obtidos nos estúdios Maristela e Veracruz.
Depois de ouvir o próprio Glauber pagar a língua em plena Cinelândia, aos gritos de “Gênio! Gênio!” após vê-lo “brincando de fazer cinema” em baixíssimo orçamento, José Mojica Marins comemora hoje, em São Paulo, ao lado de um caixão coberto de teias de aranha, crânios humanos e bonecas desfiguradas instaladas na boate Blitz Haus, em plena Rua Augusta, a longevidade da figura de cartola e unhas compridas.
A festa oficial faz parte de uma turnê comemorativa na qual o cineasta está viajando o Brasil ministrando uma série de palestras e workshops. Na última sexta-feira 13, em setembro, Mojica foi homenageado com uma ‘meia maratona’ de cinema que exibiu sua obra-prima. Além disso, um museu está sendo projetado em sua homenagem, com um orçamento de R$ 1 milhão, e um filme baseado na biografia Maldito, de André Barcinski e Ivan Finotti, está sendo preparado com o ator Matheus Nachtergaele (A Festa da Menina Morta) no papel do cineasta.
GAME EM PAUSA
Na Paraíba, o coveiro irá protagonizar um game que está sendo desenvolvido desde o ano passado por profissionais de Campina Grande.
“Nós demos uma parada (no projeto) por questões técnicas e conceituais. Estamos repensando algumas coisas”, avisa o diretor e game designer Rodrigo Motta, que quer dar ao jogo uma dinâmica diferente da que estava sendo esboçada, em uma linha mais investigativa e misteriosa, inspirado pela série The Walking Dead (da empresa Telltale).
“Mas o jogo continua ambientado numa cidade do interior, usando Campina Grande como base para o modelo 3D e o Zé vai ser jovem, antes de todas as aventuras que ele viveu no cinema”, avisa Motta.
Para ele, Zé do Caixão é uma figura que faz parte do imaginário de todo o brasileiro: “A história do Mojica é super importante.
Além de ele ser uma força da natureza que já foi contra todas as dificuldades possíveis pra fazer cinema, ele fez isso num gênero mais difícil ainda, que é o cinema de terror. Além disso, ele é um cara que sempre experimentou muito, fez diversas coisas de forma artesanal, e isso é muito importante historicamente e pra outros cineastas. O cara é uma lenda”, opina o fã paraibano.
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