Pinceladas ganham vida em espetáculo

No filme Sonhos (Dreams, EUA, Japão, 1990), de Akira Kurosawa, um aprendiz de artista caminha pelas firmes pinceladas de Vincent Van Gogh (interpretado, no longa, pelo cineasta Martin Scorsese).

A cena foi a inspiração para o diretor Flávio Melo criar Fragmentos de um Sol Quente, espetáculo que estreia hoje e amanhã, às 20h, no Auditório da Estação Cabo Branco, em João Pessoa.

A peça baseia-se no painel No Reinado do Sol, de Flávio Tavares, obra exposta permanentemente no hall de entrada do auditório, e narra o amor proibido entre a índia Manaíra, da tribo Potiguara, e o índio da Tambaú, da tribo rival, Tabajara.

O texto, elaborado a partir de uma cena da autoria de Antônio dos Santos (o Chuá), derivou de um trabalho coletivo realizado em um curso de formação em artes cênicas promovido pela Estação Cabo Branco desde o ano passado.

Segundo Melo, que também ministrou o curso, as improvisações que chegaram ao texto partiram de uma investigação sobre o painel, imaginando o que os diversos personagens retratados poderiam estar falando.

"A história veio como um soco no ouvido: Tambaú e Manaíra estão namorando na Ponta do Cabo Branco, arquitetando um plano de fuga enquanto as tribos estão atrás deles", explica Flávio Melo.

O próprio Flávio Tavares está representado em cena por dois atores, um que interpreta o artista em pleno ato criativo e outro que interpreta a consciência 'brincalhona' deste artista. A trilha sonora é inteiramente composta por peças armoriais.

Flávio Melo é arte-educador e já atuou no teatro sob a direção de Antunes Filho nos primórdios do Prêt-à-Porter, série de esquetes em que discípulos do mestre experimentam o seu método.