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CULTURA

Portinari com suas armas e paletas

Paineis oferecidos a ONU na década de 50, estarão em exposição no Memorial da América Latina, a partir desta segunda-feira (6).

Publicado em 04/02/2012 às 6:30


“O homem merece uma existência mais digna. A minha arma é a pintura”, declarou Cândido Portinari, um dos maiores artistas concebidos pelo país para o mundo, que chegou a dar pinceladas tanto para a 'Paz' quanto para a 'Guerra'.

Na próxima segunda-feira, dia do cinquentenário da morte de Portinari, será aberta no Memorial da América Latina, em São Paulo, a exposição Guerra e Paz, com os famosos painéis encomendados pelo governo brasileiro na década de 1950 para oferecer à sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Seguindo a tendência de painelistas mexicanos, o artista se dedicou aos seus dois últimos murais entre 1952 e 1956.

A exposição gratuita, que permanecerá no memorial até 21 de abril, terá ainda cerca de 100 estudos preparatórios originais feitos pelo artista e vídeos sobre o transporte das obras, que tem uma área pintada de 280 metros quadrados.

A pedido do Governo Brasileiro, a ONU confiou a guarda de Guerra e Paz ao Projeto Portinari até agosto de 2013. Ambas as telas podem ser apreciadas em seus detalhes e estudos do autor através de um site exclusivo feito pela entidade (www.guerraepaz.org.br).

DA TERRA VERMELHA
Cândido Portinari produziu mais de cinco mil obras, entre pequenos esboços e gigantescos murais. Desde o início de sua carreira, em 1934, fez da temática social a sua paleta de cores nas suas telas.

Entre seus trabalhos, o que mais simboliza a sua preocupação em retratar o povo brasileiro é a série Retirantes (1944), representando migrantes nordestinos que chegavam para trabalhar nas fazendas paulistas de cana-de-açúcar.

Filho de imigrantes italianos, Portinari nasceu em uma fazenda de café em Brodowski, interior de São Paulo, no dia 29 de dezembro de 1903.

Sobre suas origens, Portinari afirmou: "Vim da terra vermelha e do cafezal. As almas penadas, os brejos e as matas virgens acompanham-me como o espantalho, que é o meu auto-retrato.

Todas as coisas frágeis e pobres se parecem comigo."

Segundo filho de 12, aos 6 anos começa a desenhar e aos 9 já participa dos trabalhos de restauração da igreja de Brodowski, ajudando pintores italianos. "O vigário João Rulli desejava encomendar uma porteira e não se entendiam, peguei um papel e desenhei a porteira. O padre ficou olhando para mim e disse: 'Amanhã chegará o frentista para ornamentar a fachada da nova igreja. Você deve ir vê-lo e aprender.' Ricardo Luini era o nome do meu escultor."

Aos 15 anos, parte para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Cinco anos depois já participa de exposições e ganha atenção da imprensa e se interessou pelo movimento modernista.

"Foi em você que conseguimos a nossa expressão mais universal, e não apenas pela ressonância, mas pela natureza mesma do seu gênio criador, que, ainda que permanecesse ignorado ou negado, nos salvaria para o futuro", chegou a escrever o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), em carta ao pintor por ocasião do sucesso de uma exposição em Paris de 1946.

Na batalha das pinceladas, a década de 1950 seria emoldurada por vários problemas de saúde. Em 1954, Portinari apresentou uma grave intoxicação originada pelo chumbo presente nas tintas que usava. Debilitado, nunca mais se recuperou.

Desobedecendo a ordens médicas, continuou pintando e viajando com frequência para exposições nos Estados Unidos e Europa.

Em 1962, preparava uma grande exposição a convite da prefeitura de Milão, mas apresentou uma nova intoxicação pelas tintas e não resistiu. Drummond fez o poema A Mão homenageando o amigo.

Observando seu acervo disponível no site do Projeto Portinari (www.portinari.org.br), percebe-se que a pintura não matou o artista, mas o artista entregou a sua própria vida à pintura e ao Brasil.

Imagem

Jornal da Paraíba

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