Póstumo de Moura chega às lojas

Em 1973, Mauro Senise acompanhou Paulo Moura aos Estados Unidos. Aluno aplicado de Moura, Senise começara há pouco a carreira, mas já tinha gravado um disco importante, Milagre dos Peixes, de Milton Nascimento, lançado naquele ano.

Chegando a Nova York, Paulo Moura o levou à casa de um conhecido. Chegando lá, Senise se deparou com um negro alto, taciturno, que o olhou estranho. “Este é um dos meus melhores alunos”, se apressou Moura. “Olha ele aqui na contracapa do disco”, acrescentou. Ao ver o disco de Milton, o homem baixou a guarda.

Era Ornette Coleman (hoje com 82 anos), um dos maiores saxofonistas de jazz de todos os tempos. “No outro dia - conta Mauro Senise ao JP - ele saiu de casa para ver (a apresentação de) Paulo Moura. Foi burburinho em tudo que é canto de Nova York, porque ele era assim, meio João Gilberto, não saia de casa para canto nenhum, mas foi ver o Paulo Moura”.

O depoimento confirma a importância e dá pistas da dimensão do talento e do prestígio de Paulo Moura, cujo disco Fruto Maduro, originalmente encartado no livro Paulo Moura – Um Solo Brasileiro (Casa da Palavra), enfim ganha vida própria e chega às lojas em edição da Biscoito Fino.

O repertório contempla duas faixas inéditas de Moura (‘Mulatas, etc. e tal...’ e ‘Chroma 2’), seis parcerias com o multi-instrumentista André Sachs (‘Chorinho para Mignone’, ‘Macunaíma’, ‘Andina’, Trem de moura’, ‘Obstinado’ e ‘Mantenha o groove’), uma composta pela dupla, mais Benedita Michahelles (‘Coquetel’) e uma versão carregada de percussão para ‘Caravan’, de Duke Ellington (com Irving Mills e Juan Tisol), em arranjo criado por Moura em 2004.

Com aprumada direção afro-brasileira, os dez temas instrumentais do CD foram trabalhados entre 2004 e 2007, mas só finalizados em 2010, após a morte do clarinetista, para o lançamento anexo ao livro.