CULTURA
Provocações de Antônio Abujamra não pouparam também João Pessoa
Jornal da Paraíba relembra a última passagem do ator e diretor, morto ontem aos 82 anos, pela cidade.
Publicado em 29/04/2015 às 6:00 | Atualizado em 14/02/2024 às 12:29
Quem foi nos dias 6 e 7 de outubro de 2011 ao Teatro Santa Roza, em João Pessoa, testemunhou a última passagem do ator e diretor Antônio Abujamra pela Paraíba. O artista paulista foi encontrado morto ontem, aos 82 anos, em sua casa, no bairro de Higienópolis, zona oeste de São Paulo. A causa da morte foi em decorrência de um infarto no miocárdio.
Para o público paraibano há quase quatro anos, Abujamra apresentou o monólogo intitulado A Voz do Provocador, uma espécie de aula-espetáculo, gênero perpetuado pelo paraibano Ariano Suassuna (1927-2014). No palco do Santa Roza, apenas uma mesa forrada de retalhos, com vários livros e cartas onde ele ensaiava várias de suas reminiscências sobre suas décadas de trajetória artística.
Assim como o forro da mobília, com tons que misturavam humor e seriedade, Abujamra puxava pela memória o seu personagem icônico da teledramaturgia brasileira: o bruxo Ravengar, vilão da novela da Rede Globo do final dos anos 1980, Que Rei Sou Eu?. A associação era tão forte com o malfeitor do reino da fictícia Avilan que o ator era xingado e quase agredido pelos telespectadores na rua. Até em Portugal, quando a novela chegou a ser exibida além-mar.
“Pergunte-me: o que você fez de bom nestes mais de 30 anos de televisão? Eu posso dizer: alguns segundos”, afirmou certa vez, destilando sua ironia e humor ácido, marca registrada do ator e diretor.
Além do personagem marcante que jamais conseguiu desvencilhar, Antônio Abujamra relatava muito sobre seu programa na TV Cultura que ainda estava no ar até então, Provocações, onde ele batia um papo cara a cara com um artista, convidado-o a “se enforcar com a corda da liberdade”, como ele mesmo dizia. Foram 14 anos de Provocações na telinha.
No teatro, Abujamra foi um dos primeiros a apresentar os métodos do alemão Bertolt Brecht (1898 -1956) e do francês Roger Planchon (1931-2009) em palcos brasileiros.
No cinema, chegou a trabalhar com o diretor paraibano José Joffily em Quem Matou Pixote? (1996), além de atuar sob o comando de cineastas como Júlio Bressane e Alain Fresnot.
Sobre o fim da existência, chegou a provocar: “A essência do meu progresso estava em poder aceitar a minha decadência. Ou seja, progredir até morrer, porque viver é morrer. E não me arrependo de nada”.
Obras marcantes de um 'provocador'
Provocações: Foram 14 anos no ar na TV Cultura. Já passaram pelo sofá do programa semanal que refoge a rótulos e classificações personalidades brasileiras como Ariano Suassuna, Paulo Autran, Jommard Muniz de Brito, Ziraldo, Tom Zé, dentre outras.
Que Rei sou eu?:Vilão da telenovela 'global' de 1989 escrita por Cassiano Gabus Mendes, o bruxo Ravengar foi o personagem mais famoso do ator. Na ausência de um sucessor do trono de Avilan, é coroado (e manipulado) um mendigo no plano do feiticeiro.
A Festa: Rodado num único cenário, a comédia do final dos anos 1980, escrita e dirigida por Ugo Giorgetti, rendeu a Abujamra o prêmio Kikito no Festival de Gramado (RS) e o troféu de Melhor Ator da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
Um Certo Hamlet: Em 1991, Abujamra recebeu o prestigiado Prêmio Molière pela direção do espetáculo 'shakespeariano' de estreia da companhia teatral Os Fodidos Privilegiados, fundada pelo próprio diretor para ocupar o Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro.
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