CULTURA
Quem é Efigênio Moura, escritor paraibano que disputa cadeira na Academia Brasileira de Letras
Efigênio Moura concorre a cadeira 27 da ABL e tem obras voltadas a vida do homem do interior nordestino. Eleição deve ocorrer em 11 de dezembro.
Publicado em 09/11/2024 às 14:00
O escritor paraibano Efigênio Moura, natural de Monteiro, no Cariri da Paraíba, é um dos candidatos à cadeira número 27 da Academia Brasileira de Letras (ABL). A vaga foi deixada pelo poeta Antônio Cícero Correia de Lima, falecido em 23 de outubro, na Suíça. Esta mesma cadeira foi ocupada por nomes de destaque da literatura nacional, como Joaquim Nabuco, Dantas Barreto e Eduardo Portela. O Jornal da Paraíba conversou com o escritor.
A eleição especial para a ocupação da cadeira 27, promovida pela ABL, deve acontecer em 11 de dezembro. Efigênio Moura, que tem uma trajetória literária que mescla a cultura e as paisagens do Nordeste brasileiro, é um candidato com um estilo próprio. Ele é também o único paraibano e nordestino na disputa pela cadeira 27.
A sua escrita leva aos leitores o linguajar e o cotidiano do homem do interior, valorizando as expressões típicas, populares da região. Características que, segundo ele, são fundamentais para manter a autenticidade de sua obra.
“A candidatura é legítima, porque eu sou brasileiro. Eu tenho literatura, livros publicados, que falam de uma região onde eu moro, e que tem pouco espaço na literatura nacional, principalmente na forma como eu escrevo. Eu sou aquele escritor que escreve como se fala. Para muitos é um erro, por conta do português padrão. Mas eu vejo um realismo muito grande nas obras, mesmo sem ficções, a partir do momento que eu trago a fala de quem faz a fala, de quem produz a fala, para os livros, para que todo mundo conheça”, afirma Efigênio Moura.
A vida e a obra de Efigênio Moura estão marcadas pela cultura nordestina. Seu livro "Ciço de Luzia", publicado em 2013, foi selecionado como leitura obrigatória no vestibular da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). A obra, inclusive, foi traduzida para o inglês, o que fez ampliar o alcance da cultura nordestina para leitores de outras línguas.
Livros de Efigênio Moura
- Eita gota uma Viagem Paraibana
- Ciço de Luzia
- Santana do Congo
- Caderneta de Fiado
- Apurado de Contos
- Pedro Jeremias
- Pedro Jeremias no Cariris Velhos
- Pedro Jeremias nos Cariris Novos
- Siá Filiça
- Chã dos Umbuzeiros
- Sertão de Bodocongó
- Beijo de Pestana
- Currulepes
- Condado de Brevard
- Carolino
Candidatura também é resistência
Sua ligação com a tradição e a autenticidade do Nordeste é também reforçada em sua fala sobre os personagens que cria para compor os seus livros, baseados em pessoas reais que encontra em seu dia a dia. Natural de Monteiro, ele conta que suas histórias remontam desde esse tempo, e foram criando corpo ao longo dos anos a partir de suas vivências e experiências por onde passou.
“Minhas histórias começam em Monteiro. Na verdade, elas começam com pessoas. Vou levando, então, todos os personagens que são feitos de pessoas reais, mesmo sendo de mentira. São aquelas pessoas que eu vejo no meu dia no quadrilhão, onde eu extraio deles a essência, a pureza deles serem nordestinos, sem pudor, sem vergonha e sem explorar a caricatura deles, sem explorar aquela coisa engraçada do matuto”, explica.
Para Efigênio, a candidatura também é uma forma de resistência e valorização da literatura nordestina, muitas vezes sub-representada nos grandes círculos literários do país. Ele destacou, em entrevista ao Jornal da Paraíba, o entusiasmo e a ansiedade com a possibilidade de integrar a ABL.
“De início era somente, não, eu vou [me inscrever] porque eu sou brasileiro. Mas aí tem aquela coisa de resistir. Resistência é muito bem nordestino. Então, quando eu recebi o email de confirmação, eu fiquei todo alegre. E eu entrei porque eu acredito na literatura nordestina, acredito nos novos autores, na literatura contemporânea, acredito mais ainda nos meus antepassados”, finalizou.
Efigênio Moura traz para a sua candidatura uma visão autêntica, que dá voz ao homem do sertão e à cultura nordestina, com a força de quem vive e respira o interior do Brasil. Ele que, em 2015, foi eleito membro da Academia de Letras de Campina Grande, ocupando a cadeira 18, cujo patrono é o escritor Salatiel Pimentel, pretende dar voos mais altos e se imortalizar na literatura nacional.
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