CULTURA
"Queria um disco que tivesse mistura de todas as Gals", diz Gal Costa sobre CD
'Estratosférica' dá sequência a 'Recanto', mas pega leve nas "estranhezas" do trabalho lançado em 2011 com Caetano Veloso
Publicado em 02/06/2015 às 6:00 | Atualizado em 08/02/2024 às 17:04
Jabitacá é uma serra que fica na divisa entre a Paraíba e Pernambuco, ali próximo a Monteiro. Foi lá que o ex-Cordel do Fogo Encantado Lira, junto com os conterrâneos Júnior Barreto e Bactéria, foi buscar o título de uma das faixas do novo álbum de Gal Costa, Estratosférica (Sony Music, R$ 24,90). “É uma palavra linda”, exclama Gal, em entrevista por telefone, lamentando que não conhece a região, mas gosta da sonoridade do nome.
Estratosférica é o irmão caçula de Recanto, disco que reinventou Gal Costa quatro anos atrás numa parceria ousada e intensa com Caetano Veloso, feito - como ela mesma admite - para aproximá-la do público jovem que começava a descobrir seus antigos tesouros discográficos.
Com a ajuda do afilhado Moreno Veloso (filho de Caetano), ela enveredava pelo mundo da música eletrônica em Recanto, aplicando uma sonoridade estranha e elegante na mesma medida, de fazer inveja ao melhor disco do Björk.
“Recanto foi um disco totalmente inovador, na minha concepção”, comenta Gal Costa ao JORNAL DA PARAÍBA. “Foi um disco propositadamente feito assim, porque a garotada já estava de olho no meu trabalho dos anos 60. Foi um disco pensado para essa galera”.
Estratosférica mira na turnê Recanto Ao Vivo, que passou por João Pessoa em janeiro de 2014 e ganhou registro em DVD. “(Recanto) era um disco bastante radical, já o show não era, embora tivesse os mesmos arranjos”, pondera a baiana. “O show tinha parte do repertório do Recanto, mesclado com clássicos que eu gravei ao longo da carreira, e que se harmonizavam perfeitamente”.
Dessa lição, Gal Costa compôs seu 33º disco investindo numa proposta menos radical e - palavras dela - "mais palatável", sem abrir mão de texturas eletrônicas e apostando numa sonoridade retrô que encontra par na atual cena indie brasileira, contando novamente com a produção de Moreno, agora escudado por Kassin (que havia tocado no álbum anterior).
“A ideia do Estratosférica é justamente essa: cantar um repertório novo, de gente jovem que eu nunca havia gravado, ou mesmo que esta aí há algum tempo, mas eu nunca havia gravado, e que tivesse essa mistura de todas as Gals, com um arranjo mais ríspido, como são ‘Por baixo’ (de Tom Zé), ‘Anuviar’ (de Moreno e Domenico Lancellotti), de misturar o convencional com eletrônico”.
O repertório, completamente inédito, passeia pela poesia de Antônio Cícero (musicada por Arthur Nogueira em 'Sem medo, nem esperança'), Thalma de Freitas (que compôs 'Ecstasy' a partir das bases de João Donato), Criolo ('Dez anjos', do encontro com Milton Nascimento), Marcelo Camelo ('Espelho d'água', estreando a parceria com o irmão, Thiago), Mallu Magalhães ('Quando você olha pra ela'), Jonas Sá ('Casca', com Alberto Continentino) e Arnaldo Antunes e Marisa Monte ('Amor, se acalme', com Cezar Mendes).
Em meio às gravações, Puppilo (da Nação Zumbi), que integra a banda que acompanhou Gal no estúdio, recebeu uma missão da cantora: compor uma música mais dançante para azeitar o repertório. E foi assim que ele sacou ‘Estratosférica’, parceria com Céu e Junior Barreto que acabou por batizar o trabalho.
O disco também traz uma canção de Lincoln Olivetti, morto em janeiro. Ele, que assinou arranjos para discos da baiana e foi resgatado por Kassin no último disco de Vanessa da Mata (Segue o Som), assina, com Rogê, ‘Muita sorte’.
No CD, foi incluído o bônus ‘Ilusão à toa’, versão da baiana para o clássico de Johnny Alf, encomendada para a novela Babilônia, da Globo - esta sim, completamente convencional. Na edição digital, Johnny Alf é substituído por uma exclusiva de Guilherme Arantes, ‘Vou buscar você pra mim’. Estratosférica também sai em vinil, com dez, das 12 faixas inéditas do trabalho.
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