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CULTURA

Recomeçando do zero

Vocalista da banda Zero Calibre, paraibano Octávio Soares fala sobre a vida depois do tiro que atingiu sua coluna. 

Publicado em 20/08/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 16:10

Milagres existem. E os músicos paraibanos Octávio Soares e Elísio Neto estão aí para provar, embora com sequelas graves, decorrentes de um assalto à mão armada na madrugada do dia 26 de maio em uma lanchonete em Ponta Negra, na cidade de Natal (RN), onde a banda Zero Calibre, surgida em 2003, no Rio de Janeiro, havia acabado de se apresentar.

Atingido na vértebra torácica entre a cervical e a lombar (T6 e T7) por uma bala calibre 45, Octávio teve uma lesão medular e, segundo ele, está com 60% do corpo paralisado, do peito até os pés. Apesar de ferido no braço, por onde a bala entrou, consegue se locomover com uma cadeira de rodas.

Elísio Neto perdeu um rim, parte do intestino e parte do fígado e teve o duodeno obstruído, o que o obriga a andar com uma bolsa de colostomia até conseguir fazer a cirurgia de reparação.

“A força dele é impressionante", comenta Octávio sobre o irmão, em entrevista por telefone. "A dedicação também. Ele se preocupa mais comigo do que com ele. A preocupação dele é me ajudar, fazer com que eu me sinta melhor".

Depois de 3 meses entre Natal e Brasília (DF), o cantor, compositor e baixista da Zero Calibre voltou para casa, na divisa entre os bairros Tijuca e Estácio de Sá, onde mora com a mulher e um filho pequeno.

“Tô passando por muita dificuldade aqui”, desabafa. “Foi feito uma obra muito grande no meu apartamento para poder se adaptar a essa nova realidade. Mas está sendo dificílimo sair da cama e ir para cadeira de rodas, sair da cadeira para cama. O sofá da sala é baixo em relação à cadeira de rodas. Estou reaprendendo, mas é um processo muito difícil”.

Para se adaptar à cadeira de rodas, Octávio passou 45 dias no hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, submetido a uma reabilitação. “Você vê muita gente que chegou lá em um estado igual, ou pior, que o seu, e tem vida independente, ativa. Isso serve de motivação”, afirma Octávio.

“Minha medula ainda tem um inchaço muito grande em decorrência do calor da bala. Pode levar de 6 meses a 1 ano para esse inchaço diminuir e a esperança é que, diminuindo, eu recupere algum movimento”, comenta.

Sobre o dano, se permanente ou não, Octávio diz que os médicos se recusam a dar um prognóstico. “Eles se recusam porque acreditam que a medicina não é uma coisa exata. Tem que dar tempo ao tempo”.

A Zero Calibre foi formada pelos irmãos paraibanos poucos anos depois de chegarem ao Rio, onde moram até hoje. Em Natal, abriam uma miniturnê de três shows que chegaria, na sequência, a João Pessoa, onde o grupo nunca se apresentou. “Era o nosso reecontro com o público paraibano”, fala Octávio.

NO RIO, AMIGOS FAZEM SHOW EM HOMENAGEM AOS IRMÃOS

O assalto que feriu Octávio e Elísio se transformou em um pedido de paz. Nesta terça-feira, no Teatro Odisséia, no Rio, artistas e amigos promovem o show ‘Violência Zero – O Melhor Está por Vir...’ como forma de homenagear os irmãos, arrecadar dinheiro para o tratamento dos dois e, claro, gritar contra a violência no país.

Artistas como Lenine, BNegão, Marcelo Hayena (vocalista do Uns e Outros), Da Gama (Cidade Negra), DJ Negralha, Bruno e Coelho (Biquini Cavadão) e tantos outros da cena independente carioca, na qual o Zero Calibre seguia uma carreira de prestígio, sobem ao palco em no da paz e por Octávio e Elísio.

“Sei que serão montadas três formações e cada uma dessas formações terá o nome de uma música do Zero Calibre. Cada formação vai cantar seu repertório e uma musica nossa”, diz Octávio.

Os irmãos estarão lá, mas sem tocar. Octávio diz que está difícil até para segurar um garfo, quanto mais uma palheta. "Não temos condições de trabalhar agora. A prioridade é cuidar da saúde e também da nossa cabeça”, comenta. “Afinal, foi um choque muito grande, o momento mais difícil das nossas vidas”.

O vocalista lembra que a situação dele é diferente da de Herbert Vianna, vocalista do Paralamas do Sucesso, que em 2001 sofreu um acidente de ultraleve que o deixou paralítico. "Ele tem uma banda já consagrada nacionalmente, então aonde ele vá tem uma estrutura já montada de adaptação, de acessibilidade. Eu não tenho essa facilidade. A Zero Calibre teria um caminho muito mais difícil a percorrer”.

VIDEOCLIPE

Durante o evento desta terça, também será lançado o videoclipe ‘A cidade escureceu’, canção que Octávio compôs no tempo em que cantava na Insight, em João Pessoa, e regravada pelo Zero Calibre no estúdio dos irmãos (com o produtor Dudu Viana) no Rio, o Riff.

Dirigido por Toni Martin, o clipe traz imagens de Octávio na capital federal com outros cadeirantes que conheceu durante sua estada no Sarah Kubitschek.

“Desde que aconteceu essa lesão, algumas pessoas que me conhecem desde os tempos da Insight ficavam me mandando a música, a letra pelo Facebook”, fala Octávio. “Ela passa uma mensagem tão positiva que eu achei que tem tudo a ver com o momento atual”.

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Jornal da Paraíba

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