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CULTURA

Reedições celebram 70 anos de Macalé

Single de estreia do carioca sai em CD, enquanto primeiro LP e reeditado em vinil.

Publicado em 02/05/2013 às 8:00

Ele estudou música com o célebre maestro Guerra Peixe (1914-1993), mas carrega no nome o apelido do “pior jogador do Botafogo”. Jards Macalé é figura sine qua non da MPB moderna, do Tropicalismo, de Caetano Veloso (ele produziu o mítico LP Transa, de 1972) e de cantoras como Gal Costa (que gravou dele ‘Vapor barato’) e Maria Bethânia (ele chegou a dirigir a cantora no palco).

Seu legado discográfico é cult e começa a ser redescoberto no embalo dos seus 70 anos de vida (completados no dia 3 de março), que também é festejado com shows e um filme sobre sua polêmica figura.

As comemorações pelo aniversário incluem o lançamento, inédito em CD, do primeiro e raro registro em disco de Jards Adnet da Silva. Lançado em 1970, o single duplo Só Morto trazia quatro faixas, duas de cada lado do disco. No lado A, ‘Soluços’ (de Macalé) e ‘O crime’ (dele com Capinan). No lado B, duas parcerias de Jards com Duda: ‘Só morto (Burning night)’ e ‘Sem essa’.

Jards comenta que essas faixas continuam "novas" até hoje. “Tanto que eu regravei ‘Sem essa’ em Contrastes (1977) e ‘Só Morto (Burning night)’, que dá nome ao disco, no Jards (2011). Dessas aí, eu só não regravei ‘O crime’”, afirma.

‘O crime’ traz a participação especial do pernambucano Naná Vasconcelos, um habitué da famosa Casa 9, teto de Jards Macalé antes e depois do exílio em Londres, para onde se refugiaria do governo militar a convite de Gil e Caetano e onde gravaria Transa.

As quatro faixas foram gravadas por Jards Macalé no antigo estúdio carioca Haway, pilotado por um jovem Marco Mazola. No estúdio, Jards se fez acompanhar pela lendária banda Soma. “Os arranjos foram coletivos, mas a direção musical é minha, assim como eu fiz em Transa”, revela.

“Antes do disco, eu tinha feito um show com (o baixista) Bruce Henry no Teatro Poeira, que era de Nara Leão e Cacá Diegues, e ele me apresentou ao grupo Soma”, explica Jards, acrescentando que conseguiu agregar, ainda, Zé Rodrix no estúdio.

A edição em CD – lançada pelo zeloso Discobertas – traz, além das quatro músicas originais, nada menos que dez faixas bônus, pinçadas de gravações ao vivo de qualidade duvidosa, mas de inestimável valor histórico.

Estão lá a performance única de ‘Gothan City’ no IV Festival Internacional da Canção (FIC), em 1969, mais dois números de um show gravado no Espírito Santo em 1970. As outras sete foram extraídas de uma apresentação em Niterói (RJ) no ano de 1973.

Desse repertório surgem parcerias de Macalé com Torquato Neto (‘Let’s play’), com Augusto Boal (‘Poema da rosa’) e Waly Salomão (‘Revendo amigos’, ‘Orora analfabeta’, ‘Anjo exterminador’ e ‘Rua real grandeza’).

“Se eu desconstruí ‘Gotan city’ no Maracanãzinho (palco do FIC), no show individual, só com o violão, eu desconstruí a desconstrução”, diz, referindo-se a uma outra versão, acústica, de sua célebre parceria com José Carlos Capinan, presente no repertório extra do CD.

VINIL E CINEMA
Lançado três anos depois de Só Morto, o primeiro álbum propriamente dito de Macalé também ganhou reedição, só que em vinil. O LP de dez faixas Jards Macalé, gravado em 1972, mas só lançado em 1973, foi remasterizado em Abbey Road e relançado dentro da coleção 'Clássicos em Vinil', da Polysom.
Entre um show e outro com sua banda Let’s Play That, Jards arranja um tempinho para ajudar a promover seu filme, Jards (2011). “Fui a Nova York com (o diretor) Eryk Rocha (filho do célebre Glauber Rocha) para gravar um DVD (sobre o CD de 2011) e acabamos fazendo o filme”, comenta.

“O filme levou Melhor Diretor no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro em 2011 e acabamos de voltar em Nova York, onde ele foi exibido no New Directors/New Films (festival promovido pelo Museu de Arte Moderna, o MoMa)”, comemora Jards.

Para arrematar, brinca ao dizer como se sente com 70 anos: “Cansei de fazer 69”.

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Jornal da Paraíba

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