CULTURA
'Jurassic World: reino ameaçado' diverte, mas é mais do mesmo
Apesar de empolgar, longa deixa de lado abordagens originais para focar em fórmula já conhecida do público.
Publicado em 14/06/2018 às 17:25 | Atualizado em 15/06/2018 às 12:11
JURASSIC WORLD: REINO AMEAÇADO (EUA, 2018, 128 min.)
Direção: J. A. Bayona
Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Rafe Spall, Justice Smith, Daniella Pineda
★★★☆☆
A Teoria da Evolução de Darwin defende, basicamente, que organismos mais bem adaptados ao ambiente têm maiores chances de sobrevivência, enquanto os menos desenvolvidos vão acabar eventualmente enfrentando a extinção. E é muito conveniente que essa premissa se aplique à franquia Jurassic Park, cujo quarto filme, Jurassic World: reino ameaçado (Jurassic World: fallen kingdom, 2018), estreia nos cinemas da Paraíba nesta quinta-feira (14).
O longa começa três anos após os eventos de Jurassic World: o mundo dos dinossauros (2015). Abandonado, o parque temático localizado na Ilha Nublar - e os dinossauros que ele abriga - está na iminência de desaparecer completamente devido a uma erupção vulcânica. Após o Senado americano bloquear um pedido de resgate dos animais, a ex-gerente do parque Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) recebe um pedido de ajuda de Benjamin Lockwood (James Cromwell), co-criador da tecnologia que permitiu a clonagem de dinossauros. Owen Grady (Pratt), antigo funcionário do parque, é chamado por Claire para ajudar no resgate dos bichos, e ambos partem com um grupo de ativistas para a ilha com a missão de levar as criaturas para um santuário seguro.
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Claire é, de cara, a personagem que mais chama atenção: após o fechamento do parque, ela passa por uma transformação radical e se transforma (quem diria) em uma ativista pelos direitos dos dinossauros. E esse é justamente um dos pontos mais interessantes - e infelizmente pouco explorado - deste segundo filme de Jurassic World: o debate que é levantado acerca dos direitos dos animais e da responsabilidade que cabe aos humanos - que são, afinal, quem os trouxeram de volta à vida. É moralmente correto deixar os dinossauros enfrentarem uma segunda extinção com a destruição da ilha? Ou o Estado deveria ajudar no resgate desses animais?
Nesse sentido, Reino ameaçado aponta para os temas que, ao menos se espera, devem perpassar o próximo filme da franquia (a terceira parte está prevista para 2021). A manipulação genética de animais e humanos; a exploração comercial desses novos avanços; os dilemas morais e éticos que daí provêm; e até que ponto todos os seres vivos e ecossistemas da Terra podem reclamar por direitos são debates atuais e relevantes - em 2017, por exemplo, o rio Whanganui, na Nova Zelândia, conquistou os mesmos direitos que qualquer ser humano - completamente compatíveis com a história da série.
Jurassic World: reino ameaçado, entretanto, perde a chance de se aprofundar nessas questões para rapidamente se tornar, mais uma vez, numa série de dinossauros destruindo coisas e perseguindo presas indefesas (com a exceção de Chris Pratt, que é indestrutível). Claro que é divertido assistir a monstros gigantes geneticamente modificados lutando entre si ou engolindo vilões, mas uma série de filmes não pode sobreviver disso eternamente. Fica claro, assim que o vulcão da Ilha Nublar entra em erupção e os animais são resgatados às pressas, que existem destinos mais obscuros para os dinossauros do que um santuário: toda a trama secreta soa clichê e pode ser facilmente prevista pelo espectador, e o longa logo cai na mesmice dos filmes anteriores sem apresentar nenhum avanço substancial de enredo.
Uma das poucas e positivas surpresas de Reino ameaçado vem da direção de J. A. Bayona (A orfã). O diretor consegue imprimir, com sucesso, elementos de horror e suspense no filme, e explora a iluminação e as sombras de modo inteligente e efetivo: a cena no quarto de Maisie (Isabella Sermon), neta de Lockwood, consegue ser ao mesmo tempo assustadora e de uma beleza rara em blockbusters do tipo. Sermon, aliás, é uma outra boa surpresa, e seu personagem promete adquirir uma posição de centralidade no futuro da franquia.
Apesar disso, ao final, fica a sensação de que Jurassic world: reino ameaçado foi deliberadamente construído como um mero filme de transição para a terceira parte, que deve finalmente explorar todas as potencialidades da saga. Com isso em mente, e relevando o desejo dos produtores de extrair o máximo de dinheiro possível do seu público, vale dizer que o longa ainda consegue entreter mesmo com a fórmula batida e previsível.
Os temas rapidamente sugeridos neste segundo filme dão um último sopro de vida à saga. Mas é como postulou Darwin: é melhor que Jurassic World 3 realmente evolua - ou pode correr o risco de se tornar supérflua e repetitiva demais e representar a extinção dos dinossauros no cinema.
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