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CULTURA

'Oito mulheres e um segredo': uma geração de criminosas

Apesar de falhas, filme entretém e traz elenco feminino triunfante.

Publicado em 07/06/2018 às 17:46 | Atualizado em 08/06/2018 às 11:15


                                        
                                            'Oito mulheres e um segredo': uma geração de criminosas

				
					'Oito mulheres e um segredo': uma geração de criminosas
Oito mulheres e um segredo: em tempo de Time's up, já estava passando da hora..

RESENHA DA REDAÇÃOOITO MULHERES E UM SEGREDO (EUA, 2018, 110 min.)

Direção: Gary Ross

Elenco: Sandra Bullock, Cate Blanchett, Anne Hathaway, Mindy Kaling, Sarah Paulson, Awkwafina, Rihanna, Helena Bonham Carter

★★★☆☆

Mulheres fora-da-lei sempre foram estereotipadas na cultura pop: comum, especialmente nos melodramas, é a figura da louca repulsiva - vide A malvada (1950) e A mão que balança o berço (1991) - que mata, engana e trai por causa de (surpresa!) homens. Claro que existem ótimas anti-heroínas que fogem a essa figura - Nancy Botwin de Weeds, Ginger McKenna de Cassino (1995), Molly Bloom de A grande jogada (2018), Thelma & Louise (1991) - mas, em geral, o criminoso simpático que acaba atraindo a atenção do público e transformando os mocinhos em vilões é um privilégio masculino. O crime feminino sempre foi o normal masculino: toda aquela que ousasse - falar, se posicionar, amar - era uma criminosa.

Bem-vindo é, então, Oito mulheres e um segredo (2018), que estreia nos cinemas da Paraíba nesta quinta-feira (7). O filme é um spin-off da famosa trilogia dirigida por Steven Sodebergh; mas, como o título nacional sugere, a gangue criminosa é formada, desta vez, completamente por mulheres.

>>> Confira os filmes em cartaz nos cinemas da Paraíba nesta semana

O elenco de protagonistas é, de fato, o principal destaque do filme. Sandra Bullock interpreta Debbie Ocean (irmã do Danny Ocean da trilogia original) uma ladra profissional que é solta da prisão após cinco anos de pena. Ao invés de desfrutar uma vida tranquila e nos trilhos após ser solta, a primeira providência de Debbie é roubar um colar avaliado em 150 milhões de dólares da super-celebridade Daphne Kluger (Anne Hathaway). Juntam-se a ela sua antiga parceira Lou (Cate Blanchett); a especialista em joias Amita (Mindy Kaling); Tammy (Sarah Paulson), outra parceira de Debbie; a vigarista Constance (Awkwafina); a hacker Nine (Rihanna); e a designer de moda Rose (Helena Bonham Carter).

As mulheres de Ocean estão (quase) todas confortáveis como criminosas, e apesar dos nomes estelares de Bullock e Blanchett, é Mindy Kaling quem rouba a cena: a atriz confere ao filme uma leveza cômica e sincera que permaneceu lamentavelmente pouco explorada. Bonham Carter também brilha - talvez por parecer estar interpretando sua própria persona bizarramente maravilhosa, reforçada por figurinos que lembram aqueles que a deixaram no centro dos tapetes vermelhos de premiações e das revistas de fofoca. A única que parece destoar do grupo é Rihanna; desde Bates Motel a cantora já demonstrava não estar totalmente afinada com as câmeras, e sua atuação em Oito mulheres e um segredo indica que essa situação não mudou.


				
					'Oito mulheres e um segredo': uma geração de criminosas
A gangue de Oito mulheres..

É principalmente nesse agrupamento feminino e em todos os significados que dele provêm que reside o sucesso de Oito mulheres. Os homens são praticamente desnecessários no filme (bem, a inclusão de um quadro com mensagem feminista em uma das cenas poderia não ter sido feita por Banksy e sim por uma parceira ficcional) e, como anuncia Debbie em um inspirado momento, todas as garotinhas de oito anos que sonham em ser criminosas - saiam da frente, princesas - já têm seus modelos a seguir (é bom ficar de olho: não me surpreenderia se, no futuro, certa parcela da sociedade culpe Oito mulheres por formar mais uma geração de meninas enlouquecidas...).

Quem vai esperando um filme de roubo clássico, com tiros, perseguições e explosões, pode se decepcionar: Oito mulheres e um segredo não tem carros derrapando ou fugas eletrizantes, e nenhuma bala é disparada. Isso dito, o roteiro de Gary Ross e Olivia Milch é suficientemente ágil e convincente, embora recorra com certa frequência ao mecanismo de deus ex machina - soluções fáceis para situações que seriam complicadas em outras circunstâncias. O resultado é que tudo parece se resolver fácil demais.

Um exemplo é o momento em que a irmã de Nine aparece convenientemente para solucionar uma rara dificuldade no esquema criminoso. Já Debbie é retratada como uma verdadeira mestra do crime que montou um esquema praticamente infalível. Os furos no plano são tampados por personagens sempre dispostos a quebrar a lei - o que testa um pouco a paciência do público - e tomar um pedacinho dos diamantes para si. E isso se transforma num problema que rouba boa parte da efetividade do longa: Oito mulheres percorre um caminho sempre linear e seguro, e em nenhum momento o espectador chega a suspeitar que algo no roubo vá dar errado ou temer pelo futuro das protagonistas. A direção de Ross, por sua vez, é apenas regular; o diretor não ousa muito e filma o grupo criminoso quieta e convencionalmente, à lá Hollywood.

Apesar de falho, o filme é necessário num contexto em que a representatividade feminina, no cinema e fora dele, é pauta cada vez mais urgente. Afinal, pequenos passos iniciais são necessários para que se cheguem a cenários ideais. Quem, sabe, numa sequência hipotética, Doze mulheres e um segredo não seja escrito e dirigido por uma mulher.

Imagem

Marcelo Lima

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