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CULTURA

Resenha da Redação: 'Os Incríveis 2', uma animação de super-herói para o nosso tempo

Filme alia nostalgia a comentários sobre a sociedade e a vida em família.

Publicado em 28/06/2018 às 19:04 | Atualizado em 30/06/2018 às 7:24


                                        
                                            Resenha da Redação: 'Os Incríveis 2', uma animação de super-herói para o nosso tempo

				
					Resenha da Redação: 'Os Incríveis 2', uma animação de super-herói para o nosso tempo
Helena toma o protagonismo em Os Incríveis 2..

RESENHA DA REDAÇÃOOS INCRÍVEIS 2 (EUA, 2018, 118 min.)

Direção: Brad Bird

Elenco: Craig T. Nelson, Holly Hunter, Sarah Vowell, Huck Milner

★★★★☆

Quando Os Incríveis estreou em 2004, pouco se sabia do que esperar: apesar do nome da Pixar coroando o projeto, o filme marcava a primeira vez que um nome de fora dos estúdios dirigia uma de suas animações. Além disso, o longa anterior do diretor e roteirista Brad Bird, O gigante de ferro (1999), havia sido um fracasso de bilheteria. Mas Os Incríveis acabou se tornando um sucesso de público e crítica e, catorze anos depois (!), estreia nos cinemas da Paraíba, nesta quinta-feira (28), Os Incríveis 2 (Incredibles 2, 2018).

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Desde o seu anúncio, em 2014, a sequência provocou uma onda de expectativa nos jovens (talvez não tão jovens) adultos que acompanharam a primeira aventura da família Pêra durante a infância e adolescência. A espera valeu a pena: em duas horas de nostalgia, Os Incríveis 2 diverte enormemente ao mesmo tempo em que levanta questões prementes aos dias de hoje.

Três meses após os eventos do primeiro filme, os Pêra continuam trabalhando para salvar o mundo - mas na clandestinidade, já que a atividade de super-herói é ilegal. Quando a tentativa de impedir um roubo a banco acaba se tornando um desastre, Roberto (Craig T. Nelson), Helena (Holly Hunter), Violeta (Sarah Vowell), Flecha (Huck Milner) e Zezé são obrigados a abandonar para sempre seus disfarces e poderes. Mas a situação muda quando o presidente de uma grande empresa oferece a Helena a oportunidade de mudar a opinião pública a respeito dos super-heróis: para isso, basta que ela combata o crime sendo continuamente filmada, com uma equipe agindo por trás para vender e promover suas ações positivas.

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Os Incríveis 2 retorna, assim, abordando duas das patologias do nosso século: a obsessão que todos temos com figuras para odiar ou amar e a hiperconectividade da sociedade atual. À medida que vai obtendo sucesso na luta contra o crime e que suas ações vão sendo transmitidas ao público através da televisão e da internet, Helena se transforma numa estrela global, uma modelo cuja imagem mescla tanto aspectos de sua real personalidade quanto características cuidadosamente selecionadas por uma equipe de publicidade.

O maior desafio de Helena nessa trajetória é o Hipnotizador, que hackeia sinais e dispositivos eletrônicos e se utiliza de telas - de TV, de computadores, de smartphones - para transmitir sua mensagem e manipular a opinião do público contra os super heróis (é impossível não lembrar do papel que a manipulação de informações na internet vem desempenhando no cenário mundial...). E, embora as motivações do Hipnotizador sejam maléficas - ele é, afinal, o vilão do filme -, seu discurso de que estamos jogados em uma espécie de paralisia confortável, em que precisamos de salvadores milagrosos enquanto permanecemos imóveis assistindo a um espetáculo, é dolorosamente familiar.


				
					Resenha da Redação: 'Os Incríveis 2', uma animação de super-herói para o nosso tempo
Cena de Os Incríveis 2..

É interessante notar, também, como longa reverte os papéis de gênero comuns aos filmes de super-heróis e reflete uma dinâmica de família completamente antenada com a atualidade: enquanto Helena combate o crime, Roberto fica em casa cuidando das crianças (não sem uma dose típica de egocentrismo masculino). Beto, aqui, pode se desenvolver como pai, como figura que vai além de um monte de músculos que combate criminosos.

Além do tratamento dessas questões de forma leve e natural, sem tornar o filme demasiadamente político ou panfletário, e do desenvolvimento das personagens enquanto família, um dos triunfos do longa é a trilha sonora composta por Michael Giacchino. O compositor - que também compôs a música de Os Incríveis - constrói uma trilha que se entrelaça efetivamente com o filme, sendo estimulante e divertida quando necessário e até assustadora em alguns momentos; e poderosa na medida certa, sem nunca se sobrepor às imagens (lindamente construídas, como se poderia se esperar da Pixar, e fiéis ao estilo do original) com floreios desnecessários.

Isso dito, vale destacar que Os Incríveis 2 é um filme completamente adequado para o público infantil. Sua graça e seu poder enquanto sequência residem justamente em acompanhar as minúcias ao mesmo tempo amargas e valorosas do dia-a-dia familiar: a descoberta dos poderes de Zezé; os dramas adolescentes de Violeta com o primeiro namorado; as tentativas de Roberto em ensinar matemática ao filho. Hábitos cotidianos e triviais de milhares de pais e mães que, apesar de não vestirem fantasias ou explodirem navios com a força da mente, são tão super-heróis quanto qualquer mascarado.

Imagem

Marcelo Lima

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