CULTURA
Retrospectiva de Jean Rouch exibe 37 filmes do cineasta francês
Serão exibidos, até sexta-feira que vem, 37 filmes, divididos em 17 programas na recém-inaugurada Sala Espaço Cine Digital, no antigo Auditório Azul (anexo ao Bangüê) do Espaço Cultural José Lins do Rego. Entrada gratuita.
Publicado em 11/04/2010 às 8:24
De Astier Basílio do Jornal da Paraíba
Este era um dos lemas do cineasta francês Jean Rouch (1917- 2004): “Filmar de manhã, revelar ao meio-dia, projetar à tarde”. Essa frase, mais do que ser meramente de efeito, revela muito de que tipo de cinema se quer fazer. O que Rouch sempre quis, em sua filmografia de mais de 100 produções, foi realizar um cinema que tenha um compromisso com a realidade. Daí ser ele um dos grandes nomes do Cinema Direto.
João Pessoa recebe a partir deste domingo a ‘Retrospectiva de Jean Rouch’. Serão exibidos, até sexta-feira que vem, 37 filmes, divididos em 17 programas na recém-inaugurada Sala Espaço Cine Digital, no antigo Auditório Azul (anexo ao Bangüê) do Espaço Cultural José Lins do Rego. A entrada é gratuita.
Quem conheceu Jean Rouch de perto, tendo, inclusive, sido sua orientanda em uma tese de doutourado apresentada na Universidade Paris X - Nanterre, foi a cineasta paraibana Vânia Perazzo.
Além do trabalho acadêmico, a diretora chegou a fazer o curso que o francês costumava ministrar. “Não era um curso convencional – dava a seus alunos a oportunidade de conhecer, sobretudo, outros cinemas”.
Perazzo explica que o francês era um homem de inúmeras atividades. Disseminava ideias que eram levadas adiante por seus amigos. “Um exemplo: os ‘Ateliês de Formação em Cinema Direto’, hoje ‘Ateliers Varan’, que permitiu a formação de uma nova geração de realizadores paraibanos, aqui em João Pessoa e em Paris”, fala Vânia Perazzo.
Sobre os bastidores do curso, a diretora lembra que Rouch gostava de falar sobre acontecimentos de bastidores. “Os debates, sempre acalorados, eram temperados por histórias dos bastidores do cinema: as brigas de Rossellini e Ingrid Bergman num hotel em Paris; a paixão instantânea de um cinéfilo por uma jovem – pois soubera ser ela neta de Flaherty – e o desapaixonar, também instantâneo, após descobrir que ela não era, sequer, contraparente do cineasta; os africanos que se retiravam da sala nos filmes em que eram apresentados em transe, pois podiam repetir o fenômeno em meio à plateia”, lembra Perazzo.
Das lições do mestre, Vânia Perazzo destaca uma, em especial. “A grande experiência do ‘curso’ de Jean Rouch foi a de que o cinema sempre pode ser, em maior ou menor grau, sinônimo de resistência. Se não o for, para que filmar?”.
Falando sobre o “Cinema Direto”, Vânia indaga: “Por que Cinema Direto?” Ela própria dá a resposta: “Porque resultava de um contato direto e autêntico com a realidade e o som era gravado simultaneamente com a imagem. Substituía assim o termo Cinema Verdade – tradução literal de Kino-Pravda em russo. Mas o Pravda ali não significava apenas a verdade, mas sim, a versão cinematográfica do jornal Pravda, da União Soviética”.
A curadoria dessa retrospectiva é de Mateus Araújo Silva. A promoção é da Associação Balafon, com o patrocínio da Secretaria do Audiovisual e o Ministério da Cultura, com parceria local da UFPB. A mostra já esteve em outras capitais, a exemplo de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília.
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