CULTURA
Rock, ET e glitter em disco mítico
No último dia 6 de junho, The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, mítico disco do cantor e compositor inglês David Bowie.
Publicado em 29/07/2012 às 8:00
No último dia 6 de junho, The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, mítico disco do cantor e compositor inglês David Bowie, completou 40 anos. A data foi celebrada com (mais) uma reedição do álbum que consolidou a carreira de Bowie como um dos grandes gênios revolucionários do rock.
O disco, conceitual, versa sobre um ser andrógino (o tal Ziggy Stardust) que veio à Terra trazer uma mensagem de esperança, já que o planeta está chegando ao fim. Com música, fotos e atitude, Bowie trouxe ao rock uma sexualidade ambígua, canções com guitarra, piano e cordas e toda uma embalagem que viria a definir o chamado “glam rock”, emplacando canções como ‘Ziggy Stardust’ e ‘Starman’ - esta, regravada com sucesso pelo Nenhum de Nós com letra em português (‘O astronauta de mármore’).
São canções que embalam gerações tão diferentes quanto as de Láuriston Pinheiro e Abdalah Rached, ambos com 52 anos de idade, Flaviano André, 37, e Sarah Falcão, 26, fãs declarados não só de Ziggy Stardust, mas de David Bowie e sua capacidade camaleônica de se reinventar musicalmente.
“Bowie encarnou a personagem Ziggy Stardust para falar à juventude britânica a partir de um ser sexualmente ambíguo, visualmente estranho e mal adaptado à rotina e às tradições de uma sociedade ultraconservadora. Foi um transgressor comportamental, mais do que musical”, ensina o gerente de Marketing da Rede Paraíba, Láuriston Pinheiro.
Láuriston continua: “O fato de suas faixas serem ‘rock do bom’, de letras bem sacadas e tocadas com convicção e competência musical, só facilitou o assalto sensorial que sua figura representava. Entrou nas paradas, nos programas de TV, e violou a vitoriana calmaria dos lares ocidentais. The Rise and Fall... não é apenas discoteca básica, é um fenômeno cultural”.
Contemporâneo de Pinheiro, além de conterrâneo de Campina Grande, Abdalah Rached encontra um paralelo do disco de Bowie com outro álbum venerado do rock, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. “Tem um paralelo incrível de coincidências que acho que nunca vi ninguém notar”, diz o engenheiro de sistemas, radicado em São Paulo. “Os dois discos são de personagens e mexeram com os costumes da época.
Tanto quanto as roupas coloridas da capa do Sgt. Pepper, todo um gênero - no caso o glitter-rock - se espalhou pelo mundo. Depois desse disco, todo mundo podia tudo”.
Toda essa alquimia acabou por influenciar um músico paraibano.
Flaviano André, também radicado em São Paulo, é exultante ao falar de The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars: “É simplesmente uma das sete maravilhas da terra, tombado pelos amantes da boa música e da verdadeira arte desde o ano do seu lançamento”, resume o vocalista, que tem uma banda de glam rock completamente influenciada por Bowie, a Star 61.
Flaviano lembra que Ziggy Stardust é um disco influente não só na música, mas também na moda e no cinema. “Todos, de alguma forma, em algum ponto, já beberam e bebem nessa fonte inspiradora que atravessa décadas e nunca seca”, acrescente o músico que adora dedilhar, ao violão, músicas como ‘Soul love’ e ‘Ziggy stardust’. “O álbum é perfeito e eternamente intocável. Quando ponho para tocar, quero logo dançar, quero logo dublar, corro pro espelho para me maquiar”.
A jornalista de moda, Sarah Falcão, concorda que poucos artistas de música influenciaram tanto as passarelas quanto Bowie. “O visual de Ziggy Stardust é bastante coerente com a sua época - havia um ‘futurismo’ que era tendência de moda, arte e design”, ensina. “Paco Rabanne e Pierre Cardin, por exemplo, eram dois estilistas visionários que nos anos 60 e 70 deixaram o mundo boquiaberto com roupas que eram verdadeiras obras de arte futuristas, quase que trajes espaciais. Ziggy Stardust é quase que uma caricatura dessa época, porém com o charme de um rock star e um grande apelo midiático”.
“Nem lembro quando o Bowie entrou na minha vida, ou quando conheci o disco The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars”, comenta Sarah, “Mas de uma coisa eu sei: foi um disco que me encantou desde a primeira vez que ouvi, desde a primeira música. Encantou, emocionou, me deu até calafrios. Ouvir esse disco é como ver um filme fantástico feito somente com sons”.
“Ziggy... é o único disco de glam rock que resistiu à passagem do tempo”, atesta o crítico norte-americano Robert Dimery no livro 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer (Sextante). “Os riffs e os solos arrojados do guitarrista Mick Ronson – arrepiantes em ‘Moonage daydream’, Suffragette city’ e na faixa-título – ajudaram a definir o som glam. Os vocais de Bowie mudam a cada canção – às vezes reflexivos, às vezes refinados, desesperados ou extasiados”.
The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars ganhou uma edição simples em CD (lançada no Brasil via EMI) e outra em vinil de 180 gramas (importado), com um DVD-audio contendo uma mixagem alternativa do disco em 5.1 canais, feita em 2003. O CD, em edição digipack, simula um LP de duas abas e traz, como antigamente, as letras impressas na capa interna cartonada.
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