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CULTURA

Rock perde seu poeta selvagem

Cantor, compositor e guitarrista, o músico norte-americano, que partiu aos 71 anos, era um dos pilares do rock.

Publicado em 29/10/2013 às 6:00 | Atualizado em 18/04/2023 às 17:26

Desde domingo, o mundo chora a perda de Lou Reed. Cantor, compositor e guitarrista, o músico norte-americano, que partiu aos 71 anos, era um dos pilares do rock. Injetando lirismo, poesia e literatura em suas mais de 500 letras, cantou sobre drogas, travestis, ladrões e bichos-grilos. Com John Cale e os demais companheiros do Velvet Underground, rompeu barreiras musicais com experimentalismos sofisticados, tornando o grupo um marco. Por tudo isso, Lou Reed ocupa um lugar sem precedente na história da música pop.

“Minha ambição é fazer rock tão duradouro quanto Shakespeare”, declarou certa vez o cantor e compositor nascido em Nova York (EUA) no dia 2 de março de 1942, que não resistiu ao transplante de fígado realizado em março deste ano e morreu de complicações hepáticas, de acordo com a imprensa internacional. Deixou viúva a célebre artista multimídia Laurie Anderson.

Para a jornalista Olga Costa, do fanzine paraibano Microfonia, o nome ‘Velvet Underground’ era completamente condizente ao estilo selvagem de Lou Reed. “Ele vivia no underground e cantava sobre esse underground com versos cortantes, inteligentes, repletos de referências e metáforas”.

Olga conseguiu ver o ídolo de longa data em novembro de 2010, quando Reed fez dois shows no Sesc Pinheiros, em São Paulo, tocando, na íntegra, um de seus discos mais experimentais, Metal Machine Music (1975).

“Ele parecia um verdadeiro maestro. Tinha realmente o domínio da coisa, sabia o que estava fazendo”, recorda Olga. “Show repleto de microfonia, muito próximo ao que o Sonic Youth viria fazer depois. Muita gente saiu no meio do show e perdeu quando, ao final, ele cantou algumas músicas do Velvet Underground. Nessa hora tinha gente se ajoelhando no chão”.

Metal Machine Music traduz o artista que Lou Reed foi, alguém que não cedia às pressões comerciais e fazia o que lhe dava na telha. “Na carreira solo, ele passou a fazer algumas coisas que não tinham uma linha reta. (A todo instante) ele estava pronto para pular do precipício. Ele arriscava as coisas”, comenta Olga Costa.

A jornalista Sarah Falcão, que quando nasceu o Velvet Underground já havia chegado ao fim havia mais de 10 anos, tentou assistir esse show em São Paulo, sem sucesso. “Esgotou tudo muito rápido”, lamenta. Mas conseguiu um autógrafo do ídolo numa livraria, já que Reed aproveitou sua passagem pelo Brasil para lançar Atravessar o Fogo (Cia. das Letras), coletânea que reúne 310 letras traduzidas para o português, livro que Olga vê com desconfiança: “É difícil traduzir Lou Reed se você não embarca no universo dele”.

Sarah descobriu o Velvet Underground (e Lou Reed) na universidade, pesquisando sobre pop art. “(Ele) era um artista que falava sobre sadismo, drogas, sobre sua namorada transexual (...) Eu achava isso tudo muito ousado pros anos 2000 e, de repente, veio Lou Reed mostrando que nos anos 70 já se falava, fazia e vivia aquilo. Foi muito bom descobrir esse mundo”, comenta.

Desse mundo fazia parte o artista plástico Andy Warhol (1928-1987), que gostou da visão de Reed e seus companheiros de banda e resolveu apadrinhá-los, até criando para o disco de estreia The Velvet Underground and Nico (1967) a famosa “capa da banana”.

Em seus mais de 50 anos de atividade artística, Reed desenvolveu estéticas, conceitos e ideias que influenciaram – e influenciam até hoje – grupos de rock das mais diversas vertentes. Não haveria R.E.M., U2, Sonic Youth, Nirvana, Strokes e tantos outros se não fosse por Lou Reed. "Sem Lou não há Bowie como o conhecemos", exagerou o compositor Lloyd Cole em seu Twitter, quando soube da morte do músico.

David Bowie ajudou a moldar o disco solo mais famoso de Lou Reed: Transformer (1972). Gravado na Inglaterra, para onde ele se mudou depois que largou o Velvet Underground (com quem gravou quatro discos), incluía o maior sucesso solo de Reed: ‘Walk on the wild side’, além de outras pérolas como ‘Perfect day’ e ‘Satellite of love’.

Sem a Velvet, Lou Reed fez 20 discos. Era rabugento e tinha fama de destratar a imprensa. Foi mais cultuado que comprado e deixou uma carreira irregular, embora seu talento fosse acima de qualquer suspeita.

Seu último trabalho foi com a banda Metallica. Lulu (2011) foi um disco execrado pelos fãs da banda de thrash metal, mas exultado pelo séquito do novaiorquino, que compraram muito melhor as esquisitices do álbum conceitual.

Antes dele, Reed havia lançado Hudson River Wind Meditations (2007), um disco de meditação. Nos últimos anos, o artista se declarava ‘zen’ e praticava tai chi, mostrando que havia deixado os anos de “lado selvagem” para trás.

“(Lou Reed foi) um artista completo que conseguiu fazer seus limitados dotes musicais transformarem gerações e gerações de outros artistas. Um homem sem concessões, que viveu sem medo de confronto”, define o jornalista carioca Pedro Só, autor de uma antológica entrevista feita com Reed no Rio, publicada numa revista Showbizz de 1996.

Pedro conclui: “A obra de Lou Reed vem libertando milhões de jovens desde o final dos anos 60 - e soltando demônios que nunca mais poderão ser presos novamente".

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Jornal da Paraíba

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