Romance de novela

Francisco de Assis Sousa Pereira é o autor da última radionovela do Nordeste brasileiro. Às vésperas da Copa do México, a televisão chega nos arrabaldes de uma pequena cidade e rouba a audiência da trama. Deprimido, Francisco promove o genocídio de todos os seus personagens e foge da cidade, desaparecendo para todo o sempre.

É este o enredo de O Autor da Novela (Ideia, 225 páginas, R$ 20,00), oitavo romance de Tarcísio Pereira, que o escritor lança hoje em João Pessoa. A sessão de autógrafos será às 20h, no restaurante Tô em Casa (por trás do Shopping Sul, nos Bancários). O evento terá apresentações da Cia. dos Truques, da bailarina Andréa Monteiro e do músico Glauco Meireles.

O argumento rendeu a Tarcísio a bolsa de incentivo à criação literária da Fundação Nacional de Artes (Funarte), em 2009. Segundo o ficcionista, a pesquisa para a construção do romance envolveu viagens ao Rio de Janeiro, onde parte da história se passa, e consultas ao lendário arquivo da Rádio Nacional.

"O livro descreve muito a capital carioca", conta Tarcísio, que se deteve também sobre o período político que vai da Ditadura Militar até a reabertura democrática do país. "A Rádio Nacional produzia os programas que eram transmitidos para todo o Brasil. Quando a televisão apareceu, vários artistas que trabalhavam com rádio ficaram desprotegidos, sem espaço".

Porém a obra, na concepção de Tarcísio Pereira, não é crítica em relação ao contexto de transição da audiência do rádio para a televisão. "Ela apenas registra um momento", garante o romancista e dramaturgo, que começou a desenhar o livro em mente ainda no final dos anos 1990, quando foi contratado para redigir o guia eleitoral de um partido político.
"Eu mesmo criei uma novelinha de rádio para esta campanha", lembra Tarcísio. "As ideias ficaram na minha cabeça e se juntaram às minhas lembranças das novelas de rádio que a minha mãe escutava: O Direito de Nascer, Cenas da Paixão..."

MEIOS E MENSAGENS

Em tempos de internet e revoluções midiáticas por minuto, O Autor da Novela também faz uma ponte com a atualidade, dialogando, segundo Tarcísio, com filmes como O Artista (2011) e Cine Holliúdy (2013), este último em cartaz nos cinemas da Paraíba (veja crítica na página 4).
"Coincidentemente, quando vi estes dois filmes, depois de pronto o livro, constatei que eles refletiam exatamente sobre a mesma coisa. A tecnologia sempre obrigou os artistas a saírem de sua zona de conforto e se adaptarem a outros meios. Como quando o computador substituiu a máquina de escrever", observa o autor, que se diz um "dinossauro" em relação a este tópico.
"Alguém sempre paga um preço com estas mudanças e eu ainda estou me acostumando com a internet. Criei uma loja virtual dia desses. Um dia eu ainda chego lá", brinca.

PRÓXIMO ROMANCE

Tarcísio Pereira está com um outro romance pronto, La Bodeguita, que ele já estava desenvolvendo quando concorreu à bolsa da Funarte: "Eu fiquei indeciso, este ano, se publicaria La Bodeguita ou O Autor da Novela, e optei por este devido ao apelo da bolsa", admite. "Fora isso, minha carreira está mais dedicada ao teatro atualmente. Também iniciei um novo romance, O Filme de Hoje, mas dei uma interrompida".
Nascido em Pombal (Sertão) e radicado em João Pessoa, Tarcísio Pereira destacou-se no teatro com o texto Nua na Igreja (1993), com o qual arrebatou o Prêmio Nelson Rodrigues, do Ministério da Cultura (MinC). São dele também os textos As Pelejas de Camões (1997), Caboré - A Ópera da Moça Feia (2000), entre outros.