CULTURA
Samba, suor e umbanda
Escritor carioca Paulo Lins lança 'Desde Que o Samba é Samba' romance, conta o surgimento da primeira escola de samba do país.
Publicado em 01/05/2012 às 6:30
São três partos que o escritor carioca Paulo Lins faz no seu segundo romance, Desde Que o Samba É Samba (Planeta, 336 páginas, R$ 39,90): o samba moderno percussivo, a primeira escola de samba brasileira e os primeiros terreiros de umbanda do Brasil.
"O samba sempre ficou ali onde eu morava, no Estácio, na periferia em torno da Praça Onze de Junho, na zona do baixo meretrício", mapeia o autor em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA. "Quando tinha oito anos, minha mãe não deixava comprar bala no botequim da esquina. E quem estava lá? Nelson do Cavaquinho, Cartola..."
Lins menciona que a relação com o 'bandido' sempre estava presente com a marginalização do samba, assim como o funk há alguns anos. "A Marquês de Sapucaí, que hoje é passarela de samba, era também considerada uma área marginal", relembra.
Ambientada entre os anos de 1928 e 1931, a trama de seu novo romance detalha o surgimento do primeiro bloco de carnaval do país, a escola de samba Deixa Falar, que desfilou pela primeira vez em 1929, na mesma vizinhança onde viveria o escritor, no Estácio, berço do gênero no Rio, então capital federal, e chamada pelo literato de 'Pequena África'.
Desde Que o Samba É Samba conta a vida errante de um dos fundadores da escola, o cafetão e malandro de nascença Brancura, junto com o seu agitado romance com a prostituta Valdirene. “Cheguei a pesquisar até nos arquivos da polícia civil.
Muitos dos personagens eram presos só por fazer samba”, revela.
Passeando por personagens que já foram de carne e osso e os imaginários (como Valdirene), os protagonistas entram em contato com nomes famosos da cultura brasileira, como Pixinguinha, Carmem Miranda, Mário de Andrade e Manuel Bandeira, entre outros. "Não abro mão dessa liberdade poética", afirma. "Chega um momento que você não sabe o que é fictício ou o que é real. Tudo vira ficção."
VISÃO DAS ENTIDADES
"A umbanda nasceu com o samba, dentro do terreiro de candomblé", alega Paulo Lins. "Depois que passou a funcionar sob licença, abrigou sambistas e marginais."
Criada no Rio de Janeiro do começo do século 20 pelo médium Zélio Fernandino de Moraes, sob a influência da entidade espiritual Caboclo das Sete Encruzilhadas, a umbanda era um elemento que ainda não tinha sido descortinado pelo autor. "Não tinha conhecimento de como nasceu, então tive que pesquisar no próprio terreiro", ressalta o romancista, que teve consultas particulares nos locais sagrados para ter as perspectivas das próprias entidades religiosas para o livro.
Desde Que o Samba É Samba é a primeira aposta da editora Planeta em Lins, que adquiriu o seu 'passe' da Companhia das Letras por US$ 100 mil, em 2004.
Casa de autores como Paulo Coelho, Mário Prata e Fernando Morais, a editora deve lançar também um título infanto-juvenil do escritor para o segundo semestre.
O romance veio depois de um hiato de 15 anos sem nenhuma publicação desde o sucesso de Cidade de Deus, que virou o premiado e internacional filme realizado por Fernando Meirelles há 10 anos.
De acordo com o escritor, o bloqueio criativo fez com que ele parasse várias vezes ao longo dos anos, mas também fez com que escutasse muita música. Durante a produção e audição, a especialista em literatura Heloísa Buarque de Holanda fazia sugestões em passagens que julgava que Lins "tinha perdido a mão."
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