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CULTURA

Saudades do velho safado

Charles Bukowski morreu há 20 anos.

Publicado em 09/03/2014 às 8:00

"Não há nada a lamentar sobre a morte, assim como não há nada a lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até a sua morte (...) A maioria das mortes das pessoas é uma empulhação. Não sobra nada para morrer."

Esta é uma das muitas frases de Charles Bukowski (1920-1994) que hão de ser compartilhadas neste domingo nas redes sociais, exatamente 20 anos após a morte do escritor que, como Clarice Lispector ou Caio Fernando Abreu, tornaram-se virais na internet brasileira.

Um "gif biográfico" divulgado pela L&PM (uma das principais editoras que publica as traduções de seus livros no Brasil) conta a partir de fotos a história de um autor polêmico, cujo nome é frequentemente associado ao vício e à obscenidade: "Charles Bukowski foi carteiro, bebia muito (muito mesmo!), gostava de mulheres, teve uma filha, era amigo do Sean Penn, gostava de gatos, gostava de sua máquina de escrever, escrevia poemas, escrevia romances, escrevia contos, infelizmente morreu."

Entre as ocorrências do YouTube em que Bukowski em pessoa aparece lendo poemas como 'Bluebird' ('Pássaro azul', que já ganhou inúmeros curtas-metragens e animações), um brasileiro caminha pela Melrose Avenue, em Los Angeles (EUA), tentando resumir sua obra Misto-Quente chamando Henry Chinaski de 'Henrique' e comparando o personagem a um super-herói da Marvel. O vídeo, 'Literatura para preguiçosos', é uma breve metonímia do público leitor que a obra de Bukowski (ou mais propriamente a sua figura) alcança.

Nem os escritores estão imunes ao fascínio exercido pela literatura do 'velho Buk': a chamada 'Geração zero zero', de escritores brasileiros nascidos entre as décadas de 1960 e 1970 que começaram a despontar no mercado editorial a partir do ano 2000, é frequentemente criticada por emulá-lo. No livro Um Escritor no Fim do Mundo: Viagem com Michel Houellebecq à Patagônia (2011), o gaúcho Juremir Machado da Silva comenta o fenômeno:

"Tem uma geração de discípulos de Bukowski agora, mais pelo seu lado fodedor e bêbado, acho. Alguém escreveu que não gosta dos livros dele por não gostar dos seus leitores. É uma bela sacada. Os leitores de Bukowski quase sempre são malas-sem-alça, uns chatos tomadores de cerveja e metidos a grandes comedores."

A geração anterior coincide com a de seus tradutores. Jovens que leram Bukowski ainda no inglês, junto com os beats, e também sentiram o 'pássaro azul' querendo sair do peito depois de despejar nele litros de uísque e muita fumaça de cigarro. O paulista Reinaldo Morais, autor de Pornopopeia (2009), fala da experiência de traduzir Mulheres (1978), em um texto divulgado pela L&PM:

"Women (pronuncia-se 'Uímem'), do velho Buk, me caiu na mão, não lembro como, no início da década de 80, e logo pensei em traduzir a bagaça, de tanto que eu curti a leitura e releitura do livro. Bukowski virou meu ídolo literário da hora."

Livros como Mulheres, Cartas na Rua (1971), Factórium (1975) e Misto-Quente (1982) foram publicados originalmente no Brasil na década de 1980, pela editora Brasiliense. Estes dois últimos títulos foram reeditados recentemente em formato pocket pela L&PM e lançados junto com Crônica de um Amor Louco (1984), Fabulário Geral do Delírio Cotidiano (1986) e Pulp (1995) em uma Caixa Especial Bukowski (L&PM, 1288 páginas, R$ 105,60).

O autor está ainda no catálogo da Spectro, que publicou Tempo de Voo para Lugar Algum, em 2004, e da 7 Letras, que publicou as seleções de poemas Essa Loucura Roubada que não Desejo a Ninguém a não Ser a mim Mesmo Amém e Amor é Tudo que nós Dissemos que não Era , ambos lançados em 2012 e escolhidas e traduzidas por Fernando Koprosti.

O espólio de Charles Bukowski caiu na web no ano passado, quando foi criado o site http://bukowski.net com link para a busca de poemas (publicados e inéditos), fórum, linha do tempo, acesso a manuscritos, fotos, lista dos lugares por onde ele passou e até um arquivo com documentos reunidos pelo FBI desde 1944, quando foi preso por se recusar a prestar o serviço militar. Em uma enquete organizada pelo site, os internautas elegeram Misto-Quente seu livro predileto, com 30% dos votos.

No Brasil e no mundo, saraus estão sendo organizados em lembrança aos 20 anos de morte: em Los Angeles, fãs irão se reunir no King Eddy Saloon (local celebrado pela obra de John Fante, mestre de Bukovski) para homenageá-lo. Em São Paulo, o Club Noir, localizado na boêmia Rua Augusta, reunirá escritores e músicos para uma leitura pública de sua obra.

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Jornal da Paraíba

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