CULTURA
Sem holofotes na plateia
Promovida por artistas, campanha apela para o bom senso do público e pede o desligamento dos celulares em teatros e cinemas.
Publicado em 26/02/2014 às 6:00 | Atualizado em 07/07/2023 às 12:38
Era mais uma edição do 'Café em Verso e Prosa' em João Pessoa. No palco, a atriz Suzy Lopes dava início ao espetáculo da noite. Na plateia, um celular tocou e uma espectadora respondeu prontamente à chamada. Suzy interrompeu a performance, tomou gentilmente o aparelho das mãos da mulher e disse para o interlocutor, do outro lado da linha: “No momento ela está no Empório Café e não pode atender o telefone, obrigado.”
“A mulher ficou irritada, mas o público caiu na gargalhada”, conta Suzy, uma das atrizes que apoiam, na Paraíba, a campanha 'Saia Já do Foco'. Iniciada nas redes sociais, com vídeos e imagens que apelam para o bom senso do público e o desligamento dos celulares dentro de teatros e cinemas, a campanha já ganhou o apoio de mais de 20 atores, entre eles Antônio Fagundes, Nathalia Timberg, Reynaldo Gianechini e Maria Fernanda Cândido.
A ideia pode ser resumida pelo texto de um dos vídeos que circulam atualmente na web: “Não basta deixar no silencioso. A luz do seu celular te coloca em cena. Respeite o público, o artista, a arte. Desligue, seja você quem for.”
“É quase uma agressão”, concorda Suzy. “Como artista, estou doando a minha arte para você se divertir. Usar o celular puxa você para o foco da atenção”, conclui a atriz, que afirma se incomodar também com outras atitudes que ocorrem comumente nas plateias dos teatros nos dias de hoje, como a do público comer durante o espetáculo e ocupar as cadeiras depois do início da peça. “São coisas que atrapalham. É um absurdo, por exemplo, alguém ir ao teatro e não poder passar uma hora e meia sem comer alguma coisa. São atitudes que revelam egoísmo e falta de delicadeza de sair dali para fazer isso. Afinal, você não é obrigado a ficar.”
Como espectadora, a atriz sugere que quem estiver esperando uma ligação urgente procure as poltronas próximas às saídas do teatro e se encaminhe para o hall para atender o chamado.
“Eu mesma já passei por essa situação e procurei chamar o mínimo de atenção. Mas talvez eu tenha uma consciência maior por ser artista e saber o que acontece do outro lado.”
Segundo Suzy, a dificuldade de manter a concentração se dá muitas vezes em razão da perspectiva que o ator assume ao ver alguém mexendo no celular: “Quando eu estou em cena, tem outra Suzy sentada que vê esse aparente desinteresse e diz que o que eu estou fazendo no palco não é bacana”.
OS 'COMENTARISTAS'
No cinema, ela se lembra da vez que foi assistir ao filme Django Livre (2012) e sentou na fileira diante de um grupo de adolescentes que insistia em “comentar” as cenas do longa.
“Eles queriam mostrar um ao outro que conheciam Tarantino e comentaram toda a filmografia dele, de Cães de Aluguel a Kill Bill. Quando o diretor apareceu no final do filme, um teve que cutucar o outro para mostrar que conhecia o rosto dele e que era ele ali na tela.”
Esta é apenas uma das muitas queixas frequentemente ouvidas pelos cinéfilos durante as sessões de cinema. Entre outras atitudes desrespeitosas, destacam-se o hábito de fumar durante as sessões e apoiar os pés nas costas dos assentos alheios.
Atitudes que são desestimuladas pelas empresas exibidoras de cinema em avisos geralmente expostos fora das salas e na tela, antes do início dos filmes (a empresa Cinépolis, que opera no Manaíra Shopping, por exemplo, criou uma animação exibida junto com os trailers em que recomenda o desligamento do celular e prudência na hora de conversar durante a sessão).
A reportagem tentou entrar em contato com a Cinépolis e o CinEspaço para tratar da política das empresas em relação às reclamações eventualmente transmitidas pelo público quanto a ocorrências durante as sessões. Até o fechamento desta edição, porém, nenhuma das duas empresas respondeu às solicitações feitas junto ao assessorado local.
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