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CULTURA

Senise, 40 anos de bons amigos

Com convidados ilustres do naipe de Edu Lobo e Hermeto Pascoal, 'Afetivo' mostra o prestígio de Mauro Senise.

Publicado em 15/07/2012 às 11:08


Desde que largou a faculdade de Jornalismo para se tornar um dos nomes mais requisitados do sopro brasileiro, o carioca Mauro Senise teve dois mestres: sua professora de flauta, Odette Ernest Dias, e o inesquecível Paulo Moura (1932-2010). Hoje, aos 61 anos de idade, com uma carreira brilhante ao lado de gente como Edu Lobo, Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti, Senise celebra 40 anos de carreira em um disco reverente aos dois professores. E endossado pelos magníficos nomes que ele acompanhou em quatro décadas.

“Eu precisaria de um CD triplo e um DVD com 20 horas de duração para poder convidar todos os músicos com quem toquei e, mais do que isso, com quem aprendi muito ao longo desses 40 anos”, escreveu o músico no texto de abertura do CD Afetivo (Biscoito Fino, R$ 37,90) – também lançado em DVD.

Sem espaço para colocar todo mundo, ele selecionou um time de estrelas para acompanhá-lo ao longo das 11 faixas do trabalho. Hermeto, Egberto e Edu estão lá, assim como Wagner Tiso, Quinteto Pixinguinha, seu grande parceiro Gilson Peranzetta, o grupo Cama de Gato (do qual fez parte), Sueli Costa (autora da faixa inédita que dá nome ao disco, presente ao amigo e parceiro de palco) e, claro, a professora Odette, entre outros.

“Odette foi tão fundamental quanto Paulo”, conta Senise, por telefone, referindo-se às aulas de flauta com a professora francesa apaixonada por Villa-Lobos, e as de sax com o renomado clarinetista. “Eu comecei a estudar muito tarde, aos 21 anos. Meu negócio era rock, Jimi Hendrix, e não tinha cultura nenhuma fora disso. Ela foi muito bacana, teve paciência, me deu uma flauta emprestada e começou a me ensinar a tocar o instrumento. Foi fundamental na minha carreira”, diz.

Um ano depois, Senise já estava tomando aulas com Paulo Moura e, em pouco tempo, já caía nas graças do músico. “Tive aula particular com ele por seis anos e ele me abriu o lado do improviso, que não era o forte de Odette”, diz. “O Paulo me levava para as gafieiras, me mostrava o lado lúdico da música instrumental. Também me levou para as gravadoras”, recorda.

Odette Dias é a convidada de honra do projeto. Ela divide com Senise a gravação de ‘Feitio de oração’, clássico de Noel Rosa e Vadico, em dueto de flautas. “Infelizmente, o Paulo, fisicamente, era o único que não estava aqui. Então, dedicar o CD a ele foi a forma que eu tinha de homenageá-lo. Mas se tivesse, a gente com certeza tinha feito um duo”, comenta.

Afetivo foi gravado em março de 2011, quase que inteiramente no estúdio da Biscoito Fino, no Rio. Senise pediu que cada um escolhesse uma música para gravar com ele. “O clima foi o melhor possível”, avalia. “Minha mulher (Ana Luisa Marinho) foi a grande incentivadora do projeto. Em duas semanas, ela fechou a agenda com todo mundo”.

O único que saiu da programação foi o alagoano Hermeto Pascoal. ‘Feito à Mão’, a única de Senise no disco, e ainda por cima inédita, foi gravada em Curitiba (PR), numa manhã de domingo. “Ele chegou com uma música que tinha feito na noite anterior, cheia de notas, tipo Stravinsky. Eu ia demorar um ano para aprender aquilo tudo”, exagera o divertido saxofonista.

"Ele saiu para tomar um café e eu fiquei bolando uma melodia. Quando Hermeto voltou, disse: -Tá ótima! Vou botar uma harmonia em cima”, recorda. E assim nasceu a improvisada ‘Feito à mão”.

A maioria das faixas foi gravada no primeiro take – “Do jeito que eu gosto”, acrescenta o músico. É o caso de ‘Bodas de prata’, primeiro encontro de Mauro Senise e Egberto Gismonti no estúdio, gravada originalmente no disco Carmo (1972) e revisitada agora, 30 anos depois, com os dois músicos tocando ao vivo, “olho no olho”, como destaque Senise.

Assim como os demais convidados, foi Edu Lobo quem sugeriu incluir ‘Choro bandido’, parceria dele com Chico Buarque. A faixa, além da voz de Edu (é a única cantada do CD) e do sax e da flauta de Mauro, traz violinos, cellos, violas e contrabaixo – a chamada ‘Orquestra dos Sonhos’. “Ele (Edu Lobo) adorou a ideia de cantar sobre um arranjo de cordas do Peranzzetta”, revela.

O belo CD, que abre com ‘Choro sim, porque não’, parceria do pianista Peranzzetta com Chiquinho do acordeon, ainda conta com outra faixa de Noel Rosa com Vadico (‘Pra que mentir’, gravada com o Quinteto Pixinguinha), ‘Ondine’ (de Peranzzetta), com a harpista Silvia Braga, ‘Tiê de Sangue’ (Jota Moraes), como Cama de Gato, e ‘Olinda Guanabara’, de Wagner Tiso, na companhia do próprio pianista.

Feito com amigos, Afetivo se traduz no carinho, paixão, amizade e, claro, talento.

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Jornal da Paraíba

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