CULTURA
Ser Tão vai ao Norte
Apresentando o espetáculo 'Flor de Macambira', grupo Ser Tão Teatro peregrina durante 36 dias por onze cidades da região Norte.
Publicado em 10/01/2014 às 6:00
No filme Fitzcarraldo (1982), de Werner Herzog, um homem percorre os ermos da floresta amazônica a fim de construir uma casa de ópera. O Ser Tão Teatro inicia hoje uma jornada semelhante: Flor do Norte, projeto selecionado pelo Programa Petrobras Distribuidora de Cultura, peregrina durante 36 dias por onze cidades da região Norte do país apresentando o espetáculo Flor de Macambira e realizando oficinas e laboratórios para a próxima dramaturgia do grupo.
A diretora Christina Streva, que integra a comitiva de 13 pessoas que vencerá uma trilha de mais de dez mil quilômetros por terra, água e ar, destaca o caráter desafiador do projeto: "É uma região que a gente não conhece. Não apenas capitais, mas também cidades do interior de difícil acesso."
A viagem começa nesta sexta-feira em Gurupi (no Tocantins, a 245 quilômetros de Palmas, onde se apresentam na próxima segunda) e segue ainda pelos Estados do Pará, Amapá, Roraima, Amazonas e Acre, terminando no dia 13 de fevereiro em Rio Branco.
Na bagagem, quase uma tonelada de equipamentos, entre cenografia, figurinos e um aparato audiovisual que vai registrar a turnê para um documentário que será lançado após o retorno. Durante o roteiro, a equipe irá produzir um diário de bordo no site www.sertaoteatro.com.br/flordonorte.
"Estamos muito empolgados e ansiosos. O projeto é um resultado dos nossos últimos anos: começamos no interior da Paraíba e já fomos do Ceará à Bahia. Estamos ficando bons nisso", diverte-se Streva, que espera que o contato com o novo público fomente um trabalho sem precedentes na trajetória do Ser Tão.
"Eu tenho lido, não só eu como todo o grupo, há algum tempo, sobre a formação do povo brasileiro. Vamos com os olhos e os ouvidos abertos para entender um pouco dessa mistura que fez a nossa identidade", observa a diretora.
Identidade é a chave para a próxima peça, que irá se nutrir dos depoimentos colhidos entre os moradores das comunidades visitadas até o mês que vem. "O que a gente sabe é que (a dramaturgia) vai ser uma mistura das histórias da comunidade com os questionamentos pessoais de cada membro do grupo", antecipa Streva. "Queremos traçar paralelos entre a ancestralidade e a religiosidade desta região do país com a nossa, nos impregnando e sendo tomados por uma forma mágica, encantada e diferente de ver o mundo."
O contato com povos de origens ameríndias será, portanto, um ponto de inflexão em um repertório constituído, até aqui, por um imaginário predominantemente nordestino. Caminhando por uma vertente ainda inóspita para o elenco, a única certeza da convicção da diretora é querer se desvencilhar dos atalhos dos estereótipos.
Segundo Streva, a ideia é esvaziar a mente e se deixar levar pelos rios que cortam as veias abertas deste Brasil. "Não quero ir com nenhuma visão pré-concebida", diz ela, prestes a conquistar novos espaços. "A gente pode se deparar com coisas muito diferentes do que a gente imagina. Quanto menos a gente levar de preconceito melhor."
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