CULTURA
Sete palmos de aspereza
Baseado no filme 'Gosto de Cereja', novo espetáculo do Grupo Piollin estreia nesta sexta-feira (10) em apresentação especial para convidados.
Publicado em 10/05/2013 às 6:00 | Atualizado em 13/04/2023 às 15:51
A aspereza é o elemento que separa A Pá, novo espetáculo do Piollin, que estreia nesta sexta-feira, em João Pessoa, de A Gaivota, trabalho anterior do grupo com o diretor Haroldo Rego, que estreou em 2006.
Baseada no filme Gosto de Cereja (Ta'm e Guilass, Irã, França, 1997), de Abbas Kiarostami, a peça inicia temporada hoje, com apresentação para convidados, e terá sessões abertas ao público amanhã e domingo, às 20h, no Centro Cultural Piollin, onde permanece em cartaz até o dia 2 de junho.
"Conseguimos intensificar ainda mais o trabalho colaborativo neste espetáculo", afirma o diretor carioca, que contou com a participação do coletivo na concepção da dramaturgia.
"Buscamos uma simplicidade ainda maior, em um contexto mais áspero de um mundo no qual a luta pela sobrevivência é bem mais arraigada do que em A Gaivota".
Os encontros entre o diretor e o elenco, formado por Ana Luisa Camino, Everaldo Pontes e os irmãos Buda, Nanego e Soia Lira, foram realizados na Paraíba e no Rio. Segundo Haroldo Rego, apenas os atores assistiram juntos ao filme, que ele preferiu não rever, temendo que a referência direta às cenas do longa-metragem atrapalhassem a encenação teatral.
"Não usamos nenhuma cena nem personagem do filme, além do protagonista e da situação central de um homem que desistiu de tudo", afirma o diretor, antecipando detalhes de uma sinopse que ele prefere que não seja contada ao público, apesar do sucesso do longa-metragem que venceu a Palma de Ouro na 50ª edição do Festival de Cannes, na França.
"A ideia de nos inspirar em Gosto de Cereja brotou da vontade que tínhamos de trabalhar juntos novamente e do próprio tema do filme que, além de ser universal, é atemporal e tem uma relevância social que 'casa' com a vocação do Piollin de abordar temas humanísticos", esclarece.
Do cenário à luz, todos os elementos de A Pá agregam as sugestões de um elenco que, na opinião de Haroldo Rego, demonstrou uma relação franca e aberta durante os ensaios: "Em vez de eu aparecer com o texto pronto, pedi que construíssemos juntos a movimentação cênica e a abordagem de cada personagem. Tudo foi feito realmente em grupo, de modo que Nanego, por exemplo, pudesse dar sua opinião sobre o personagem de Buda e vice-versa. Todos se mostraram receptivos para ouvir e ajudar o parceiro em vários aspectos do projeto".
De acordo com a assessoria do Piollin, as imagens de divulgação do espetáculo, feitas por Ricardo Peixoto e que recorrem à estética barroca e ao jogo entre luz e sombras, irão compor uma exposição a ser aberta em breve no espaço situado no Róger.
O espetáculo foi produzido com recursos do prêmio Myriam Muniz da Fundação Nacional de Artes (Funarte) , de 2011. É possível que, de João Pessoa, A Pá migre para circulação no Rio de Janeiro e em outros Estados. "A gente sempre procura fazer com que o espetáculo tenha uma vida longa", diz Haroldo Rego. "Estamos dando o primeiro passo em João Pessoa.
Depois de cumprir a temporada, começamos a pensar no futuro. Uma peça é um organismo vivo e está sempre se evoluindo. Costumamos mudar muita coisa na montagem depois que ela estreia".
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