SILVIO OSIAS
150 dias de isolamento. Quando será que tudo isso vai passar?
Publicado em 17/08/2020 às 7:26 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:55
"Na base do liberou geral, a tragédia brasileira persistirá por vários meses" Dr. Drauzio Varella
A pandemia do novo coronavírus me colocou em isolamento social no dia 18 de março.
Sábado passado (15), foram 150 dias.
Nesta terça (18), serão exatos cinco meses.
Tive vontade, mas faltou coragem, de rever No Mundo de 2020. Vi no cinema há uns 45 anos.
Qual dos dois futuros é pior? O projetado pela ficção-científica ou o que virou presente?
Lembro que, no filme de Richard Fleischer, o Estado oferece uma morte confortável às pessoas (uma espécie de suicídio assistido), tamanha a desgraça que se abateu sobre o planeta.
O velho Edward G. Robinson morre diante de imagens e sons que faziam parte do passado, tudo em telões ao seu redor. Aquele mundo virtual de tanta beleza não tem mais nada a ver com o mundo de 2020.
No ano de 2020 - o do mundo real em que vivemos - os governos disseram que os velhos morreriam de Covid-19 (no máximo, teriam direito a uma UTI), até que vimos, rapidamente, que a doença mata em qualquer idade.
Não necessariamente para a Covid, perdemos Moraes Moreira, Rubem Fonseca, Aldir Blanc, Little Richard, Gilberto Dimenstein, Leonardo Villar, Ennio Morricone, Sérgio Ricardo, Olivia de Havilland, Renato Barros, Alan Parker, Dom Pedro Casaldáliga e Trini Lopez.
Vimos o papa Francisco rezando para uma Praça de São Pedro vazia. E Andrea Bocelli cantando numa catedral de Milão sem plateia alguma.
Testemunhamos os corpos levados em caminhões na Itália, onde morriam 400, 500 pessoas por dia. Nem imaginávamos que, logo, teríamos mais de 1000 no cotidiano brasileiro.
Mortos em valas comuns? Tanto em Nova York quanto na Amazônia.
Assistimos ao negacionismo do presidente Jair Bolsonaro em relação à pandemia.
"Uma gripezinha" - a história registrará o seu descaso.
Bolsonaro abriu mão de assumir a liderança da luta contra o novo coronavírus para negar a ciência e recusar o bom senso. Defendeu sempre que a economia se sobrepusesse à vida, enquanto governadores e prefeitos iam na direção contrária.
Ao levantar uma caixa de cloroquina, parecia um padre com a hóstia nas mãos diante de fiéis. Ou devotos.
Os pobres fizeram filas nas agências da Caixa Econômica para receber o auxílio emergencial que o ministro Guedes achou muito alto.
Sérgio Moro caiu. Dois ministros da Saúde - Mandetta e Teich - caíram. Mais dois - Weintraub e Decotelli - da Educação. Além de Regina Duarte, vergonhosamente defenestrada da Cultura pelo presidente.
Fabrício Queiroz foi preso.
O vídeo de uma reunião ministerial desnudou o governo.
Numa outra reunião, Bolsonaro teria dito que ia intervir no Supremo.
Ficamos desgovernados num momento crucial, mas, a despeito disso, o presidente viu sua popularidade crescer.
No Brasil de 2020, as vozes da ciência, os artistas e a imprensa profissional iluminaram os que se permitiram a luz.
A pandemia não foi embora em maio, nem em junho, nem em julho - como tantos acreditaram.
Passamos dos três milhões de infectados.
Passamos dos 100 mil mortos.
A morte foi banalizada.
Estamos em segundo lugar no mundo, num ranking vergonhoso.
Quando tudo isso vai passar?
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