SILVIO OSIAS
A masculinidade de Bolsonaro é um dos temas do corajoso filme Quebrando Mitos. Assista aqui
Publicado em 19/09/2022 às 9:55
Quebrando Mitos, documentário dirigido e narrado por Fernando Grostein (Foto/Reprodução), está disponível nas plataformas digitais desde o último sábado (17). Com duração de 92 minutos, o filme - veja no final da coluna - trata da chegada de Jair Bolsonaro ao poder e dos impasses cruciais que o Brasil precisa solucionar urgentemente e que, com absoluta certeza, não o fará caso o atual presidente seja reeleito em outubro.
Fernando Grostein Escobar de Andrade é um judeu brasileiro de 41 anos. Ele é irmão, por parte de mãe, do apresentador Luciano Huck. Fernando mora na Califórnia e é casado com Fernando Siqueira, seu parceiro na realização do filme. Em 2003, Grostein dirigiu o documentário Coração Vagabundo, que acompanha Caetano Veloso em turnê por São Paulo, Nova York e cidades japonesas. Em 2011, num outro documentário, Quebrando oTabu, fala de drogas e tem como personagens Fernando Henrique Cardoso, Bill Clinton e Jimmy Carter.
Quebrando Mitos remeterá, imediatamente, a Democracia em Vertigem, o ótimo documentário de Petra Costa. Primeiro, porque Fernando Grostein e Petra Costa vêm de famílias abastadas. Depois, porque ele e ela optaram por narrar seus filmes na primeira pessoa. Petra mostra o caminho que levou a Bolsonaro. Fernando registra o desastre que é ter Bolsonaro no poder. Ambos misturam suas histórias com as histórias do Brasil. Ambos realizaram filmes absolutamente parciais.
Há algum pecado em realizar um documentário parcial, que não tenha isenção alguma? Não. Claro que não. Jango, de Sílvio Tendler, por acaso é imparcial? E Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho? Nem um, nem outro. São filmes feitos com paixão, com grande envolvimento dos seus realizadores. São marcos do cinema documental brasileiro, os dois lançados em 1984, nos estertores da ditadura militar. E são belíssimos exemplares desse gênero que tem tanta dificuldade com o mercado e no diálogo com o grande público.
Quebrando Mitos é narrado por um homem que enfrentou grandes dificuldades até assumir a homossexualidade. Essa é a história de Fernando Grostein. Numa outra perspectiva, há um homem que parece obsessivo com a afirmação da masculinidade, além de ser declaradamente homofóbico. Esse homem é o presidente Jair Bolsonaro. É um paralelo corajoso, uma abordagem contundente que poucos ousariam adotar. Mas Fernando Grostein o faz com a liberdade que o tema pede nesse Brasil em transe social e político.
Claro que Quebrando Mitos não é um filme debruçado somente sobre esse aspecto da vida do "imbrochável". O documentário monta um rico perfil do presidente e suas conexões com o que há de pior na cena política e na vida brasileira. A narrativa passa pela desconstrução do Brasil, promovida com a chegada da extrema-direita ao poder, e expõe os imensos problemas que o país tem para enfrentar. A Amazônia, os índios, os negros, os gays, as mulheres, a violência urbana, as milícias, as armas - os temas vão se sobrepondo numa fotografia assustadora do Brasil.
Quebrando Mitos foi lançado a 15 dias do primeiro turno da eleição presidencial. É ainda mais inquietante porque nos faz pensar no futuro do Brasil, na escolha que os milhões de eleitores afinal farão. É preciso reconhecer que a permanência de Jair Bolsonaro no poder levará o Brasil a um desastre cujas dimensões não conseguimos prever. Num filme muito oportuno, Fernando Grostein acerta tanto quando fala do coletivo como quando expõe a sua história. Na reta final da campanha, sobretudo agora, o documentário enriquece nossas reflexões.
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