SILVIO OSIAS
A praça é do povo, mas Alexandre de Moraes está com a razão
Ministro proibiu acampamento em frente ao Supremo Tribunal Federal.
Publicado em 28/07/2025 às 6:23

"A praça é do povo como o céu é do condor" é verso célebre do poeta baiano Castro Alves, abolicionista e republicano, que viveu somente 24 anos.
Caetano Veloso, num frevo dos anos 1970, atualizou o verso e botou o nome do poeta no meio: "A Praça Castro Alves é do povo como o céu é do avião".
Castro Alves e Caetano Veloso. Estavam certos os dois quando escreveram que a praça é do povo. A nossa Constituição Cidadã de 1988 também nos assegura o direito de reunião na praça ou em qulquer outro lugar. É requisito das democracias.
Corte para novembro/dezembro de 2022.
Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente, frustrando a tentativa de reeleição do então presidente Jair Bolsonaro. O segundo turno foi no domingo 30 de outubro.
Ao resultado da eleição, seguiram-se manifestações contra o resultado das urnas. Por todo o país, grupos de bolsonaristas acamparam em frente aos quartéis.
Não eram manifestações democráticas, dessas que a Constituição assegura. O que eles queriam era a anulação da eleição, um golpe de estado, um novo regime militar.
Os acampamentos, que não eram nem democráticos nem exatamente pacíficos, se estenderam por novembro e dezembro, entre a eleição e a posse de Lula.
O presidente Lula tomou posse no primeiro dia do ano de 2023, e ninguém fez nada para desmobilizar os manifestantes acampados em frente aos quartéis. Nem o Exército, que os acolheu, nem o novo governo, que ingenuamente os subestimou.
O resultado foi o que se viu na tarde do domingo oito de janeiro, uma semana depois da posse de Lula. Bolsonaristas vindos de vários estados se juntaram aos que estavam acampados em frente ao quartel do Exército, em Brasília, e, aos milhares, deprederam o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal.
Novo corte. Agora para julho de 2025.
Jair Bolsonaro e mais de três dezenas dos seus aliados estão sendo julgados por tentativa de golpe de estado. Se condenado, é provável que o ex-presidente seja preso.
Neste momento, o ex-presidente Jair Bolsonaro cumpre medidas cautelares determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, entre elas, o uso de tornozeleira eletrônica.
Há bolsonaristas tumultuando a cena política. O principal é o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que, dos Estados Unidos, trama contra a soberania nacional.
Nesse cenário, o deputado federal Hélio Lopes (PL/Rio de Janeiro), conhecido como Hélio Bolsonaro, montou acampamento em frente ao STF. Ele é bolsonarista de carteirinha.
O ministro Alexandre de Moraes mandou desmontar o acampamento do deputado e foi mais longe: proibiu manifestações semelhantes na Praça dos Três Poderes.
Os críticos do ministro Alexandre de Moraes dizem que ele é autoritário, arbitrário e que, ao proibir a manifestação do deputado, está rasgando a Constituição.
Voltando ao verso de Castro Alves, "a praça é do povo", sim, mas, como o ministro Alexandre de Moraes, a gente já sabe do que os bolsonaristas são capazes.
Agindo preventivamente, Alexandre de Moraes está com a razão. Como disse Octavio Guedes, comentarista político da GloboNews, "lugar de artista é no palco, lugar de palhaço é no picadeiro e lugar de deputado é no plenário da Câmara".
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