Álbum de Dinoá traz as influências de quem ouviu muito rock

Conheço Waldir Dinoá desde o início da década de 1980. Já era ouvinte de rock e um jovem músico. Depois vieram o professor de inglês e o arquiteto.

Tocou em bandas da Paraíba - Shock, Limousine 58 - e, ao longo dos anos, tocando e cantando, fez cover dos Beatles, de Paul McCartney, do Rush e do Led Zeppelin.

Seu instrumento sempre foi o baixo (um Hofner, um Rickenbacker), mas ninguém se surpreenda se ele estiver diante de um teclado ou com uma guitarra em punho.

Na música, como ouvinte, seu interesse principal é pelos Beatles. Mais do que um ouvinte, mais do que um fã, Waldir Dinoá se tornou um verdadeiro estudioso, um especialista.

Em seu acervo, tem vasta discografia do quarteto, além de numerosa bibliografia. É um colecionador e pretende escrever um livro sobre os Beatles.

Waldir compõe, de preferência em inglês, e, há muitos anos, promete reunir suas canções num álbum. É o que faz agora ao lançar Constant Motion.

Quem conhece Waldir de perto sabe que ele é um perfeccionista. Esse traço é nítido tanto quando ele faz cover quanto quando grava as canções de sua autoria.

As audições de Constant Motion levam, em primeiro lugar, ao seu perfeccionismo, mas também às influências que o autor que aqui assina Dinoá recebeu do ouvinte Waldir.

Constant Motion desembarcou nas plataformas digitais em abril. Em junho, ganhou edição física em CD. Tem 17 faixas mais uma bonus track (a balada Blue Again). É possível que venha por aí uma edição em vinil.

Quem ouviu rock a vida toda, sobretudo o rock dos anos 1960, 1970 e 1980, dos Beatles ao progressivo, ouvirá esse repertório autoral de Waldir Dinoá identificando as positivas e inevitáveis influências que há na música que compõe e agora registra em disco.

Nas linhas melódicas, nas soluções harmônicas, nos arranjos, não será difícil encontrar algo de Paul McCartney, ou do Rush, ou do Led Zeppelin nas canções de Dinoá. Ele se mostra muito hábil ao lidar com essas influências, sem prejuízo para a sua assinatura.

Um texto escrito pelo próprio Dinoá explica o trabalho faixa a faixa. O texto se chama Uma viagem pessoal pelos caminhos da música.

Ele diz, por exemplo, que a primeira faixa, I Can Deal With It, foi escrita na época em que morou na Argentina. E revela que o riff de baixo que abre a faixa é "uma espécie de cartão de visitas, já que esse é meu instrumento principal".

O interessante é que os vocais de I Can Deal With It foram gravados em Abbey Road, o estúdio dos Beatles, em Londres. Waldir esteve em Abbey Road em 2011, e foi ali que o álbum Constant Motion começou a ser gestado.

Se First Flight Northbound junta duas melodias compostas na adolescência, Under My Skin brinca com o título da canção de Cole Porter que Frank Sinatra imortalizou.

É bom ouvir as músicas lendo o texto. A gente fica sabendo que o Álbum Branco dos Beatles está entre os discos que mais o influenciaram nessa criação e ainda que ele considera Constant Motion um disco "autobiográfico ao extremo".

Os singles lançados antes já prepararam o ouvinte para o que o álbum traria. Constant Motion é um disco de rock muito bem feito, muito bem acabado, resultado do talento e do perfecionismo de Waldir Dinoá. Quem o conhece sabe que não poderia ser diferente.