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SILVIO OSIAS

As marchinhas juninas de Antônio Barros vêm de regiões profundas do ser do Nordeste

O compositor de 95 anos morreu neste domingo, seis de abril de 2025.

Publicado em 07/04/2025 às 8:04


				
					As marchinhas juninas de Antônio Barros vêm de regiões profundas do ser do Nordeste
Foto/Mayra Barros/Arquivo pessoal.

Antônio Barros morreu neste domingo, seis de abril de 2025. O compositor tinha 95 anos e estava hospitalizado em João Pessoa desde o final de janeiro.

Eu costumava dizer a Antônio Barros que, se tivesse nascido nos Estados Unidos, ele teria se tornado um milionário - provavelmente, bilionário - com a enorme quantidade de sucessos que compôs. Lá, diferente do Brasil, direito autoral é coisa séria.

Nos Estados Unidos, Antônio Barros seria reconhecido como um grande hitmaker. Um autêntico e genuíno fabricantes de sucessos - característica principal do vastíssimo cancioneiro que deixa como legado para a música do Nordeste.

No Brasil, Antônio Barros - antes e depois de Ceceu, parceira no amor e na música - enfrentou grandes batalhas para ser reconhecido, e agora, na hora da sua morte, penso que o reconhecimento que conquistou esteve sempre aquém da importância que tinha.

Antônio Barros, esse grande paraibano nascido em Queimadas no dia 11 de março de 1930, era uma pessoa simples. Como artista e como ser humano. Um verdadeiro homem do povo, de origem humilde e sem formação musical.

Pertencia à linhagem - e o cancioneiro popular do mundo está repleto de casos assim - dos compositores cujo extraordinário talento intuitivo é o suficiente.

No Rio de Janeiro, por exemplo, há compositores de samba que não tocam nenhum instrumento. São mestres do gênero somente com o auxílio de uma caixa de fósforos.

Antônio Barros tocava pandeiro e sabia apenas os rudimentos do violão. Não precisou de mais do que isso para inserir músicas definitivas no cancioneiro do Nordeste.

Se pensarmos nos ritmos nordestinos, popularizados depois da ascensão de artistas como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, Antônio Barros dominava todos eles. Tinha tal domínio do ato de compor que, nele, aquilo não parecia demandar esforço algum.

O povo do Nordeste conhece e canta as músicas de Antônio Barros há décadas. Às vezes, desconhecendo o autor, mas as tem muito bem guardadas na memória afetiva.

Antônio Barros fez música de duplo sentido e reconheçamos que foi brilhante nesse tipo de forró. Procurando Tu e Já Faz Tempo Não lhe Vejo foram sucessos gigantescos com o Trio Nordestino e deixaram ruborizados os ouvintes mais puritanos.

"Reinado, coroa/Tudo isso o baião me deu" - lembram? Antônio Barros compôs para Luiz Gonzaga. É Estrela de Ouro, que o Rei do Baião gravou em 1959 e também no álbum ao vivo da histórica turnê que fez com o filho Gonzaguinha, em 1980.

Em 1967, uma música de Antônio Barros deu título a um álbum de Luiz Gonzaga: Óia Eu Aqui de Novo. Na segunda metade da década de 1960, Gonzaga amargava o ostracismo e lutava para reencontrar o sucesso que perdera.

No ano 2000, no álbum com as músicas do filme Eu, Tu, Eles, Gilberto Gil regravou Óia Eu Aqui de Novo. É a música de Antônio Barros feita para Luiz Gonzaga, mas cantada por Gilberto Gil com uma pegada de Jackson do Pandeiro. Registro definitivo.

Muita gente gravou Antônio Barros. Artistas de expressão regional, como o Trio Nordestino, e artistas de dimensão nacional, como Ney Matogrosso e Elba Ramalho.

Por causa do registro de Ney Matogrosso, Homem com H talvez tenha se transformado na música mais popular entre as centenas - cerca de 700 - que Antônio Barros compôs e agora dá título à cinebiografia do cantor, que chega às telas em maio.

Interessante é que Ney Matogrosso gravou Homem com H, mas não estava convencido de que botaria a música no seu disco. Casualmente, no estúdio, mostrou a gravação a Gonzaguinha, e foi este que o convenceu, intuindo o sucesso que faria.

Ney Matogrosso ressignificou Homem com H. Ressignificar, por certo, não era o verbo usado no começo dos anos 1980, mas foi exatamente isso o que Ney fez com a música.

Meu Antônio Barros preferido? Disse várias vezes a ele: é aquele de três marchinhas gravadas pelo Trio Nordestino, esse fabuloso power trio da música da nossa região.

Brincadeira na Fogueira. "Tem tanta fogueira/Tem tanto balão...".

Naquele São João. "Eu fiquei tão triste/Eu fiquei tão triste/Naquele São João...".

É Madrugada. "Já é madrugada/Até agora nada/Meu bem não aparece...".

Essas três marchinhas inspiradíssimas de Antônio Barros são clássicos absolutos do cancioneiro da região, vêm de áreas profundas do ser do Nordeste e retratam com rara felicidade e singular melancolia o verdadeiro espírito das nossas festas juninas.

Na letra de É Madrugada, há uma pergunta do eu lírico que mais parece um brado premonitório do que hoje, tristemente, vemos concretizado: "Cadê São João?".

Foto/Mayra Barros/Arquivo pessoal

Silvio Osias

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