SILVIO OSIAS
As Muriçocas são do povo. Apoio a políticos maculou bloco
Publicado em 16/02/2017 às 5:34 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:46
Encontrei Fuba casualmente nos corredores da TV Cabo Branco. Fazia tempo que não conversávamos.
Acabei dizendo algo que estava guardado comigo há muitos anos:
O apoio das Muriçocas do Miramar a políticos prejudicou o bloco.
Vou entrar no túnel do tempo:
Fevereiro de 1987. Na quarta-feira que antecedia o carnaval, fui abordado, também nos corredores da TV Cabo Branco, pelo repórter Saulo Moreno. Ele tinha uma sugestão:
Vamos cobrir um bloco novo que vai descer a Epitácio Pessoa numas carroças.
Era um pessoal ligado à professora Vitória Lima.
Eu topei. Mandei cobrir. Pouca gente. Nada indicava ainda que, ali, estava nascendo um fenômeno absolutamente espontâneo e muitíssimo importante para a vida da cidade de João Pessoa.
O resto é história. Não preciso contar. Está aí há 30 anos.
Desde então, como cidadão e jornalista, acompanho com grande interesse e muito respeito a trajetória do bloco e o papel que desempenhou na consolidação da prévia carnavalesca Folia de Rua.
Não é preciso recorrer a teses sociológicas para compreender o significado de manifestações como essa que nasceu no bairro do Miramar e conquistou uma cidade.
Conquistou como expressão verdadeira e genuína de um povo, com sua alegria fugaz, com a beleza de sua música.
Desci a avenida várias vezes e sei que não tem preço.
É tão bonito que você não sabe se cai na folia ou se fica parado a contemplar.
MURIÇOCAS ENGAJADAS
Chegaram as eleições municipais de 2004. O bloco decidiu apoiar uma candidatura a prefeito. E desceu a avenida numa espécie de quarta-feira de fogo fora de época.
A convicção de que Ricardo Coutinho era o melhor candidato (como, de fato, comprovaria em sua muito bem-sucedida gestão) não me impedia de enxergar o equívoco.
O bloco não pertencia aos 60 (ou pouco mais) por cento de eleitores que votaram nele.
O bloco não pertencia nem aos seus fundadores.
O bloco pertencia ao povo de João Pessoa.
Não podia e não pode, portanto, permitir que, a cada campanha, seja qual for o candidato, se produza uma quarta-feira de fogo fora de época.
Partidos e políticos representam pedaços. Mesmo que grandes pedaços. As Muriçocas do Miramar conquistaram o direito de representar o todo. O todo é o povo de João Pessoa, que canta com orgulho o hino do bloco e se vê nos versos escritos por Fuba.
Esse vínculo da população com as Muriçocas é um patrimônio que não pode ser maculado por campanhas políticas. Precisa ser preservado!
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