SILVIO OSIAS
Autor de Como as Democracias Morrem defende voto em Lula no primeiro turno, e JN fica do lado da democracia ao condenar deepfake
Publicado em 20/09/2022 às 8:24
O presidente Jair Bolsonaro foi à sacada da residência oficial do embaixador do Brasil em Londres discursar para apoiadores. Tirou a roupa do presidente que viajou para assistir ao funeral da rainha Elizabeth e vestiu a do candidato à reeleição. Enquanto Elizabeth II era levada ao túmulo, havia Silas Malafaia sendo Silas Malafaia a estimular o gado em Londres e havia bolsonaristas provocando jornalistas da BBC, mas, felizmente, havia a justíssima indignação do inglês aposentado, bradando: "Hoje é o dia do funeral da rainha!".
Nunca se sabe ao certo até onde Bolsonaro deve ser levado a sério, mas o fato é que, também em Londres, ele disse que vai vencer no primeiro turno. Voltou ao argumento golpista de que não reconhecerá outro resultado. Horas depois, no Brasil, o ministro Fábio Faria defendeu o fechamento do Ipec, que, nesta segunda-feira (19), divulgou mais uma pesquisa na qual, com perspectiva de vitória no primeiro turno, o ex-presidente Lula aparece como favorito com 16 pontos na frente do segundo colocado, que é o presidente Bolsonaro.
É importante registrar que o Jornal Nacional abriu espaço para a deepfake produzida contra o próprio Jornal Nacional, adulterando o resultado de uma pesquisa do Ipec. Na deep fake, são usadas a imagem e a voz da apresentadora Renata Vasconcellos, e os números mostram, criminosamente, que Bolsonaro está na frente, e não Lula. Ao noticiar a deepfake e editorializar a notícia, o Jornal Nacional se põe ao lado da democracia, ainda que, à esquerda, muita gente não reconheça que a Globo possa desempenhar esse papel.
No programa Roda Viva, da TV Cultura, Steven Levitsky, autor do livro Como as Democracias Morrem, defendeu, sem meias palavras, a união da oposição em torno de um candidato único e o voto em Lula. Na pergunta, o entrevistador argumentou que o voto em Lula fica para o segundo turno, argumento contestado por Levitsky. Ele, que testemunhou a ascensão e queda de Donald Trump, não tem dúvidas sobre os riscos que a democracia brasileira está correndo e não vislumbra outro caminho que não seja o apoio a Lula já no primeiro turno.
Num vídeo, o compositor Caetano Veloso declarou seu apoio a Lula. Com os dedos, fez o "L" do candidato e disse que chorou quando votou nele em sua primeira eleição, em 2002. Lembra também que já votara no ex-presidente na disputa contra Fernando Collor, em 1989. O bom nesse vídeo é que Caetano não esconde que adora Ciro Gomes e suas propostas de governo. No fundo, a fala do artista é um chamado aos eleitores de Ciro para que estes compreendam a necessidade do voto em Lula logo no primeiro turno.
A segunda-feira terminou com a nova pesquisa do Ipec. Lula tem 47 por cento, Bolsonaro tem 31. Lula pode vencer no primeiro turno, apontam os números. A vitória do ex-presidente no dia dois de outubro fortaleceria a democracia. Também enfraqueceria os argumentos que o presidente Jair Bolsonaro certamente usará contra a confiabilidade do processo eleitoral, bem como desautorizaria atos insanos aos quais ele e os seus aliados podem recorrer como reação à derrota nas urnas. Somente 12 dias nos separam da eleição presidencial.
Comentários