"Bolsonaro não é uma pessoa normal"

"Bolsonaro não é uma pessoa normal". Posso imaginar, mas a frase não é minha. É do ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. E foi ouvida por quem viu, nesta terça-feira (16), o programa Estúdio i, da GloboNews, onde Valdemar deu longa entrevista.

Se você gosta de política e não é bolsonarista, não devia jamais ter perdido a entrevista de Valdemar Costa Neto (Foto/Reprodução GloboNews). Foi um misto de tragédia e comédia, pode crer. E foi, sobretudo, um verdadeiro e muito triste retrato de como se dão as relações políticas no Brasil.

Claro, a frase de Valdemar que mais chamou minha atenção foi essa em que ele dá conta de que o ex-presidente Jair Bolsonaro não é uma pessoa normal. Imaginem isso dito assim de modo inequívoco pelo cara que comanda o partido ao qual o ex-presidente é filiado.

Pois é. O Brasil foi governado durante quatro anos - e correu o risco de ser por mais quatro - por uma pessoa que não é normal. E quem diz isso, sem qualquer cerimônia, é Valdemar Costa Neto, esse experiente profissional da cena política nacional.

Digo por minha conta que os entrevistadores do programa da GloboNews estavam divididos entre o riso e indignação diante do que ouviram de Valdemar Costa Neto nesse espetáculo sórdido que foi sua entrevista ao programa Estúdio i. Destaco algumas coisas que ouvi, estarrecido, do presidente do PL:

Jair Bolsonaro nunca agiu fora da lei. Jair Bolsonaro nunca defendeu golpe. Jair Bolsonaro não faz questão de nada, ele é um homem comum, ele é um homem simples.

Jair Bolsonaro não foi reeleito porque cometeu erros de comunicação. Valdemar Costa Neto chama de erros de comunicação o comportamento de Bolsonaro em relação à vacina e a postura dele com a mulherada. Mulherada, palavra utilizada por Valdemar.

No oito de janeiro, não houve tentativa de golpe, assegurou Valdemar. Golpe, disse ele, se faz com armas, tentando, ainda por cima, convencer a gente de que aqueles que vandalizaram as sedes dos poderes em Brasília não eram bolsonaristas. Mas o próprio Valdemar se referiu ao oito de janeiro como o dia do golpe.

Joias sauditas. Falsificação do cartão de vacina. Repasses de dinheiro a Michelle Bolsonaro ("É uma bobagem"). "Nada disso vai pegar". E aí, pensando numa futura disputa eleitoral entre forças democráticas e a extrema-direita, a gente teme que Valdemar Costa Neto esteja certo.

Bolsonaro inelegível. "Não será". E aí a gente deseja que ele, Valdemar, esteja errado, porque é duro imaginar que o ex-presidente não pagará por nada do que fez.

O leitor que me desculpe pelo clichê, mas fecho recorrendo àquela frase de Tom Jobim: "O Brasil não é para principiantes".