SILVIO OSIAS
Bolsonaro precisa ser punido pelo que fez e pelo que deixou de fazer
Publicado em 23/01/2023 às 9:33 | Atualizado em 23/01/2023 às 12:29
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que quer pacificar o Brasil. Mais do que a gente, ele deve saber que isso, por um longo, longo tempo, não será possível. O Brasil está fraturado. É um país sob gravíssima fratura exposta. Há muitas explicações, mas o principal responsável é o ex-presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaro precisa ser punido. Ele deve, com a maior urgência possível, responder pelo que fez e pelo que não fez durante seus quatro anos de governo. A punição mais branda - a inelegibilidade - já seria muito importante. Não é revanchismo. É a adoção do que é justo. Sob pena de ficarmos sempre tolerando o intolerável.
Dois episódios do final de semana falam com muita propriedade sobre o país em que estamos vivendo. Em primeiro lugar, a tragédia Yanomami (Foto/Reprodução). As imagens dos indígenas em situação da mais absoluta desnutrição chocaram milhões de pessoas, não as que ainda se debatem na defesa do ex-presidente. A não ser o governo Bolsonaro, quem responderá pelo genocídio na aldeia? Homens e mulheres, adultos e crianças, foram fotografados, e suas imagens nos remetem aos judeus do Holocausto ou aos que são dizimados pela fome em regiões do continente africano. Nesta segunda-feira (23), amanhecemos com a notícia da morte de uma indígena vista nas fotografias.
O outro episódio se deu enquanto o presidente Lula estava em Roraima para ver de perto a tragédia Yanomami e anunciar providências urgentes, as providências que o então presidente Jair Bolsonaro fez questão de não adotar. O outro episódio foi mais um capítulo da crise militar que marca o início do mandato do presidente Lula. O general Arruda, comandante do Exército, foi exonerado por não acatar uma determinação do comandante em chefe das Forças Armadas, que é o presidente da República - a gota d'água que veio fazer transbordar um somatório de atitudes pouco compatíveis com os conceitos de hierarquia e o próprio papel constitucional da Força.
Horas antes da exoneração, o general Tomás, que viria a ser o novo comandante do Exército, ocupou significativos espaços na mídia com um longo discurso legalista. Penso que a exposição do general não haverá de ter sido mera coincidência, mas isso é outra história. Da noite da sexta-feira (20) para a manhã do sábado (21), ele foi muitas vezes comparado ao marechal Henrique Teixeira Lott, aquele militar que garantiu a posse do presidente JK e que, mais tarde, candidato a presidente, foi derrotado nas urnas por Jânio Quadros. É importante, sim, o discurso legalista do general Tomás, mas ainda é cedo para compará-lo à figura histórica do marechal Lott.
A alegria da posse de Lula durou somente uma semana. A partir do dia oito de janeiro, quando as sedes dos três poderes da República foram atacadas, vivemos sobressaltados. Nesta segunda-feira (23), a quarta semana do novo governo começou com a primeira viagem internacional do presidente Lula. Enquanto os indígenas da aldeia Yanomami começam a receber o socorro do governo e os militares se dividem entre legalistas e bolsonaristas.
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