SILVIO OSIAS
"Brazil is back". O Brasil começa a deixar de ser um pária no mundo
Publicado em 17/11/2022 às 8:47
Pária. Sim, pária. Cresci ouvindo essa palavra. Era como, aqui na Paraíba, os caras da Geração 59 chamavam uns aos outros. Archidy Picado chamava meu tio Hugo Osias de pária. Meu tio chamava Archidy de pária. Uma vez, quando eu já era adulto, Vladimir Carvalho olhou pra mim e disse: "Puxa, você é sobrinho do pária Hugo Osias!". Os dois dividiram um quarto de pensão na Salvador do início dos anos 1960, quando eram estudantes da UFBA. Pária. Na Geração 59, por mais esquisito que possa parecer, a palavra era usada de forma afetuosa, não tinha qualquer carga pejorativa, não continha nenhuma ofensa.
Pária. Sim, pária. Nos últimos quatro anos, usamos muito essa palavra, mas não com o significado com que ela está guardada na minha memória afetiva, a evocar a Geração 59, de tantos artistas e intelectuais paraibanos. Pária com o sentido de desprezível e, por isso, posto à margem. Sejamos objetivos, diretos: o presidente Jair Bolsonaro é um pária, é um ser desprezível. O presidente Jair Bolsonaro transformou o Brasil num país visto como pária pela comunidade internacional. Passamos a ter vergonha do presidente brasileiro. Passamos a ter vergonha do país que ele projetou internacionalmente como político tosco de extrema-direita que faz questão de ser.
Nesta quarta-feira (16), o Brasil começou a deixar de ser um pária no mundo. "Brazil is back", disse, num dos seus títulos, o Washington Post, um dos mais importantes jornais do planeta. O Brasil voltou - foi como o mundo reagiu ao discurso do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (Foto/Ricardo Stuckert) na COP27, no Egito. Vivemos uma situação no mínimo muito curiosa. De um lado, temos um presidente derrotado em sua tentativa de ser reeleito, há mais de duas semanas trancado na residência oficial. Do outro lado, um presidente eleito recebido como se já estivesse governando, saudado por devolver o Brasil à civilização. "Exuberante Lula", segundo o NYT.
Morríamos de constrangimento quando Jair Bolsonaro ia a Nova York abrir a Assembleia Geral da ONU. O presidente brasileiro não falava para o mundo, mas para seus aliados, crentes de que suas muitas mentiras eram verdades absolutas. No Egito, Lula falou para o mundo, anunciou os compromissos que, como governante, assumirá diante da crucial questão climática, tratada com inaceitável desprezo por Bolsonaro. Na COP27, propondo pacto global, a postura de Lula foi a de um chefe de estado pronto para o enfrentamento de um tema que interessa a qualquer governante responsavelmente preocupado com o futuro da vida na Terra.
A partir de janeiro, não seremos mais governados por um pária. A partir de janeiro, o Brasil não será mais tratado como um pária pela comunidade internacional. Se você está entre os que consideram Bolsonaro superior a Lula, é uma pena. Bolsonaro envergonha. Lula orgulha.
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