SILVIO OSIAS
Caetano, aos 80 anos, permanece arrojado, transgressor, desafiador, complexo, brilhante!
Publicado em 07/08/2022 às 6:50
Caetano Veloso faz 80 anos neste domingo, sete de agosto. Na música popular brasileira, é o artista mais inquieto da geração que conquistou dimensão nacional na era dos festivais da canção, na segunda metade da década de 1960. Ninguém ousou tanto quanto ele, provocou tantas rupturas, exerceu tantas influências. Ninguém, numa geração de gigantes, esteve tão esteticamente à esquerda. Mais do que qualquer um dos seus contemporâneos, Caetano entrou em todas as estruturas e saiu ileso delas. Arrojado, transgressor, desafiador, complexo, brilhante!
Caetano Emanuel Vianna Telles Velloso nasceu em sete de agosto de 1942 em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. O gosto pelo canto, deve à mãe, Dona Canô, e à irmã mais velha, Nicinha. Aos quatro anos, sugeriu que a irmã se chamasse Maria Bethânia por causa da valsa de Capiba que fez sucesso na voz de Nelson Gonçalves.
Na infância, ouviu os baiões fundadores de Luiz Gonzaga. Aos 17, uma descoberta mudou sua vida: João Gilberto cantando Chega de Saudade. Se tivesse que escolher a música que mais o influenciou, escolheria esta de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Daquele modo: com a voz e o violão de João Gilberto. O ano, 1959. O mesmo em que Jean-Luc Godard realizou Acossado. Godard, o primeiro filtro pop de Caetano, que foi crítico de cinema na juventude e quis ser cineasta.
O grupo baiano, formado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia, começou a atuar em Salvador. Em meados dos anos 1960, Caetano foi para o Rio, acompanhando a irmã. Bethânia substituiria Nara Leão no espetáculo Opinião. A estreia em disco seria em 1967 no LP Domingo (com Gal), mas o reconhecimento nacional viria um pouco depois, também em 1967.
Alegria, Alegria, quarto lugar no festival da Record, o projetou e, junto com Domingo no Parque (de Gil), iniciou o Tropicalismo, movimento que propunha a retomada da linha evolutiva da música popular brasileira. Era um momento de ruptura, com a introdução das guitarras elétricas na MPB, num Brasil convulsionado pelas lutas ideológicas. Os militares governavam o país, e a sociedade civil começava a resistir. O endurecimento do regime se daria no final do ano seguinte.
Em 1968, ano do manifesto tropicalista, Caetano Veloso faria um discurso a um só tempo lúcido e enfurecido, durante o festival em que apresentou a música É Proibido Proibir, o título retirado do slogan usado pelos estudantes que puseram a França de cabeça para baixo. Em sua fala, o compositor batia na esquerda, que não assimilara a virada proposta pelo Tropicalismo, e na direita, que espancara os atores de Roda Viva.
Duas frases falavam do Brasil de então e também do país de muitos anos na frente: “se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos” e “então é esta a juventude que diz que quer tomar o poder?”.
O ano de 1968 terminou com a prisão de Caetano e de Gil pelos militares que, a partir da edição do AI-5, promoveram o que Leonel Brizola chamava de o golpe dentro do golpe. Prisão seguida do confinamento em Salvador e do exílio de três anos em Londres.
Tem mais Caetano no próximo post.
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