Caetano Veloso cantou os olhos, o cabelo e os lábios de Sônia Braga

Sônia Braga fez 75 anos neste domingo, 08 de junho de 2025. Nascida em Maringá, no Paraná, em 1950, é atriz de brilho intenso no cinema e na televisão.

Os olhos de Sônia Braga ganharam a poesia de Caetano Veloso na canção Trem das Cores, de 1982: "O mel desses olhos luz, mel de cor ímpar".

Caetano Veloso também cantou o cabelo e os lábios de Sônia Braga: "Teu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábios/Ou, pra ser exato, lábios cor de açaí".

A tigresa de Caetano Veloso é Sônia Braga? Diziam que sim, em 1977, quando a música foi lançada. Antes da fama, Sônia Braga, de íris cor de mel, trabalhou no Hair.  

Na letra de Tigresa, a personagem dizia "que gostava de política em 1966/E hoje dança no Frenetic Dancing Days". A patrulha ideológica detestava o verso e a canção, naquele Brasil dividido entre a tristeza da ditadura e as alegrias que nos eram possíveis.

São desse tempo - os anos 1970 - as minhas primeiras lembranças de Sônia Braga. Primeiro, a Gabriela da televisão, cantada por Dorival Caymmi: "Eu nasci assim, eu cresci assim/E sou mesmo assim, vou ser sempre assim/Gabriela, sempre Gabriela".

Mais tarde, no cinema, contracenando com Marcello Mastroianni, a segunda Gabriela de Sônia Braga foi traduzida por Tom Jobim: "Meu cheiro é de cravo/Minha cor de canela/A minha bandeira/É verde e amarela/Pimenta de cheiro/Cebola em rodela/Um beijo na boca/Feijão na panela/Gabriela, sempre Gabriela".

O Casal, de 1975, é a primeira lembrança que tenho de Sônia Braga no cinema. Não é um grande filme, mas é delicado e honesto. Tem o talento e a beleza de Sônia na tela grande, dirigida por Daniel Filho e atuando ao lado de José Wilker.

Dona Flor e Seus Dois Maridos, Bruno Barreto, 1976. A Dama do Lotação, Neville d'Almeida, 1978. Eu Te Amo, Arnaldo Jabor, 1981. Gabriela, Bruno Barreto, 1983. O Beijo da Mulher Aranha, Hector Babenco, 1985. Tieta do Agreste, Cacá Diegues, 1996.

De Bruno a Neville, de Jabor a Babenco e Cacá. Sônia Braga em seis filmes. Creio que resumem bem sua trajetória no cinema entre a década de 1970 e a de 1990.

Mas havia algo extraordinário guardado para o futuro: a parceria de Sônia Braga com Kleber Mendonça Filho: em Aquarius, de 2016, e em Bacurau, de 2019.

A Clara de Aquarius, a Domingas de Bacurau - Sônia vista por Kleber, esse cineasta pernambucano cujos filmes estão à altura dos melhores filmes do mundo.

Três momentos absolutamente antológicos sintetizam a Sônia Braga das telenovelas da Globo: a Gabriela de Gabriela, de 1975, a Marcina de Saramandaia, de 1976, e a Júlia de Dancin' Days, de 1978.

No meio de tudo, há a carreira internacional a partir dos Estados Unidos e, lá na frente, em 2006, um retorno às novelas da Globo em Páginas da Vida, de Manoel Carlos.

Sônia Braga foi dirigida por Paul Mazursky em Luar Sobre Parador e por Robert Redfrod em Rebelião em Milagro, ambos realizados em 1988.

Caetano Veloso, Dorival Caymmi, Tom Jobim. Todos cantaram para Sônia Braga. Para Maria, a personagem de Sônia em Eu Te Amo, os versos são de Chico Buarque, escritos sobre a valsa composta por Tom Jobim: "Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios/Rompi com o mundo, queimei meus navios...".

Estive com Sônia Braga duas vezes. No backstage do show de Caetano Veloso, trocamos meia dúzia de palavras sobre a força de Clara, a personagem dela em Aquarius.

A outra vez foi numa pré-estreia de Bacurau.Diante da plateia que lotava a sala, nem precisava, mas ela se autoapresentou: "Sou Sônia Braga, uma atriz brasileira".