SILVIO OSIAS
Cantor anão era como John Lennon chamava Paul Simon
Compositor voltou a fazer shows mesmo enfrentando perda auditiva severa.
Publicado em 14/10/2025 às 7:46

John Lennon era politicamente incorreto. Sorte dele ter vivido num mundo sem redes sociais. Se estivesse vivo, hoje seria facilmente cancelado.
O beatle, por exemplo, chamava Paul Simon de cantor anão, um modo no mínimo grosseiro de se referir ao colega compositor. É que Simon tem 1,6 metro.
Lembrei dos dois porque são aniversariantes de outubro. John Lennon teria feito 85 anos no dia nove. Paul Simon fez 84 anos nesta segunda-feira, 13 de outubro.
Paul Simon está com perda auditiva. Perdeu praticamente toda a audição do ouvido esquerdo e anunciou que não faria mais shows nem gravaria discos.
Seu último disco seria, então, 7 Psalms, de 2023. É um disco acústico que tem uma única faixa dividida em sete partes. É para ser ouvido sem interrupções.
A despeito da perda auditiva, Paul Simon voltou a fazer shows. Agora em 2025, está em turnê por cidades americanas. Numa delas, foi visto pelo amigo Milton Nascimento.
Ouço Simon desde a infância, na época em que A Primeira Noite de um Homem chegou por aqui, Eu ainda não tinha idade para ver o filme, mas ouvia as músicas no rádio.
O filme de Mike Nichols popularizou The Sound of Silence e Mrs. Robinson. São canções compostas por Paul Simon e interpretadas pela dupla Simon & Garfunkel.

Paul Simon e Art Garfunkel cantavam juntos desde quando eram colegas de escola, na adolescência. Era perfeita a química que havia entre os dois rapazes.
A carreira da dupla Simon & Garfunkel não foi longa, mas a dupla deixou ótimos discos e um repertório de grandes canções que evocam a década de 1960.
Paul Simon compunha e cantava. Art Garfunkel apenas cantava. Por isso, com o fim da dupla, ele fez carreira como intérprete de repertório não autoral.
Longe do companheiro, Paul Simon seguiu gravando seu repertório autoral. O songbook de Simon figura, certamente, entre os melhores do seu tempo e da sua geração.
Garfunkel é melhor cantor, mas Simon tem mais suingue no modo de cantar, me disse há muitos anos um amigo compositor. Ao suingue, eu acrescentaria doçura.
O aniversário de Paul Simon me fez pensar em quantas canções dele tenho guardadas em minha memória afetiva. São muitas, dezenas. Em dupla com Garfunkel ou sozinho.
Creio que a favorita é Still Crazy After All These Years. Ainda louco, depois de todos esses anos - já pensaram? Uma melodia bela e sofisticada, uma letra inspiradíssima, um feeling incrível na performance vocal e o sax soberbo de Michael Brecker.
American Tune é outra canção belíssima. Melodia e letra no nível do que Simon fez de melhor. E tem a Estátua da Liberdade navegando para o mar no sonho do eu lírico.
The Late Great Johnny Ace não é um grande sucesso, mas como é bela. Começa nos anos 1950, passa por 1964 - o ano dos Beatles, o ano dos Stones, o ano depois de JFK - e termina com a trágica notícia do assassinato de John Lennon, em 1980.
René and Georgette Magritte with Their Dog After the War é outra das minhas favoritas no songbook de Simon. Tão lado B quanto The Late Great Johnny Ace.
Num quarto de hotel, o casal Magritte dança ao som dos Penguins, dos Mooonglows, dos Orioles e dos Five Satins. São os grupos vocais que inspiraram Simon.
Still Crazy After All These Years foi composta há 50 anos. Paul Simon ainda não tinha 35 anos quando gravou a canção. Mas se considerava "louco" e já falava na passagem de "todos esses anos". Como estará agora que tem 84?
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