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SILVIO OSIAS

Cássia Eller não era só do rock. Nunca é tarde para ouvir sua voz

Publicado em 25/07/2016 às 8:14 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:48

https://www.youtube.com/watch?v=xQV6XVOB7hw

Depois de "Elis, a Musical", o público de João Pessoa vai ver "Cássia Eller, o Musical". O espetáculo fica em cartaz sexta (29), sábado (30) e domingo (31) no Teatro Paulo Pontes, do Espaço Cultural.

Cássia Eller entrou em cena quando o rock brasileiro dos 1980 começava a sair. Marisa Monte lançava seus primeiros discos e oferecia um modelo de ecletismo que os ouvintes da MPB talvez não enxergassem em Cássia Eller porque o negócio desta parecia ser só o rock. Não era. Ela, de fato, tinha uma “pegada” rock’n’ roll predominante em boa parte do que gravou, mas seus discos estão cheios de registros que apontam para várias direções.

De Ataulfo Alves a Itamar Assumpção, de Chico Buarque a Arrigo Barnabé, de Edith Piaf a Otis Redding, de Caetano Veloso a Djavan, de Riachão a Gilberto Gil. Com a vantagem de que, nela, a diversidade soa mais espontânea, muito menos planejada.

Nos anos 1990, Cássia Eller gravou muito rock brasileiro da década anterior. Dedicou um disco inteiro a Cazuza (“Veneno AntiMonotonia”), interpretou Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Titãs. Atualizou o repertório deles, recriou, tirou a “pasteurização” que marcou tão negativamente as gravações da década de 1980.

Através da sua voz, em versões fortes e personalíssimas, o rock dos 1980 ficou em evidência quando a onda já havia passado. Ganhou uma outra sonoridade. “Malandragem” foi um grande hit após a morte do seu autor, no registro desta cantora que interpretava Cazuza e Renato Russo como se os olhasse a distância, com jeito de fã, embora tivesse quase a mesma idade deles.

Gosto muito do que Cássia Eller canta em Inglês. Ela foi felicíssima ao gravar Beatles. Incorporou seu toque, não repetiu, foi criativa – do McCartney de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” ao Lennon de “Julia”, do Paul de “Get Back” ao John de “Come Together”. Ou da balada feminista “Woman Is the Nigger of the World”.

Também gravou Jimi Hendrix (“If Six Was Nine”, “Hear My Train a Coming”, “Little Wing”) e Otis Redding (“Try a Little Tenderness”). Quando foi para o Francês, surpreendeu seu público cantando Edith Piaf. É “Non, Je Ne Regrete Rien” que abre o “Acústico MTV”, o último disco que gravou. Com a formação unplugged, percorreu o país em 2001, na derradeira excursão que realizou.

Com Cássia Eller, “Oriente”, de Gilberto Gil, virou um blues. “Saudade Fez um Samba”, de Carlos Lyra, é bossa mesmo. Não são fonogramas da discografia oficial. Estão em songbooks. São bons porque apontam para outros caminhos fora do rock. Como “Partido Alto”, de Chico Buarque, que está no disco acústico, e “Gatas Extraordinárias”, de Caetano Veloso, que aparece em “Com Você, Meu Mundo Ficaria Completo”, seu último disco de estúdio.

Nunca é tarde para ouvir (e reouvir) Cássia Eller.

Imagem ilustrativa da imagem Cássia Eller não era só do rock. Nunca é tarde para ouvir sua voz

Silvio Osias

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