SILVIO OSIAS
Cinemas de João Pessoa nunca exibiram filme sobre Doces Bárbaros. Sessão no Fest Aruanda é homenagem a Gal Costa
Publicado em 07/12/2022 às 7:53
Parece mentira. Os cinemas de João Pessoa nunca exibiram o documentário Doces Bárbaros. Você pode ter visto em outra cidade ou ter o DVD em casa, mas a exibição desta quarta-feira (07), numa das salas do Cinépolis (Manaíra Shopping), dentro da programação do Fest Aruanda, tem gosto de estreia, 45 anos depois que o documentário foi lançado. Após a sessão, que começa às três da tarde, haverá debate com o cineasta Jom Tob Azulay.
Na primeira metade da década de 1960, ainda em Salvador, o show de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia no Teatro Vila Velha se chamava Nós, Por Exemplo. Em 1976, os quatro, já famosos, se reencontraram e formaram um grupo que foi chamado de Doces Bárbaros. O grupo saiu em excursão pelo país com um repertório de canções inéditas, celebrando a música e a amizade.
Os Doces Bárbaros passaram pelo Recife, numa apresentação única no ginásio Geraldão. "Com amor no coração/Preparamos a invasão/Cheios de felicidade/Entramos na cidade..." - cantavam assim. A turnê não foi tranquila. Em julho de 1976, na passagem do show por Florianópolis, Gilberto Gil e o baterista Chiquinho Azevedo foram presos por causa de maconha, uma prisão que, certamente, não ocorreria mais hoje em dia.
Os Doces Bárbaros cantavam a liberdade em tempos difíceis. Mas eram muito criticados pela caretice da esquerda. Eram considerados alienados. Muita gente já esqueceu, mas eu lembro bem. Havia o rock, as roupas, a postura no palco. O comportamento, de um modo geral. "O seu amor/Ame-o e deixe-o/Livre para amar..." - a letra de Gil, como oposição explícita ao "ame-o ou deixe-o" da ditadura, é tão clara. Não para os patrulheiros de plantão.
A turnê dos Doces Bárbaros foi registrada num documentário de longa-metragem feito para cinema, com direção de Jom Tob Azulay. O filme, de 1977, é um registro muito fiel da turnê e tem a virtude de mostrar números musicais completos. Também se debruça sobre a prisão de Gil, trazendo cenas do seu julgamento. De tão hilárias e ridículas, elas ainda deveriam envergonhar os que, naquele tempo, faziam a Justiça brasileira.
A exibição de Doces Bárbaros nesta quarta-feira, no Fest Aruanda, é uma homenagem póstuma a Gal Costa, que morreu no dia nove de novembro. É chance rara de ver o documentário na tela grande do cinema.
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