SILVIO OSIAS
Cometa Neowise pode nos decepcionar. É hora de vê-lo
Publicado em 23/07/2020 às 7:07 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:35
Chegou a hora de ver o cometa Neowise.
É nesta quinta-feira (23), leio nos jornais.
No Hemisfério Norte, ele proporcionou um belo espetáculo.
Repetirá o show para nós, os do Hemisfério Sul?
Tenho grandes dúvidas - digo baseado em um ou outro conhecimento que herdei do meu pai, que dedicou muito da vida dele à astronomia.
Aos seis anos, meu primeiro cometa foi o Ikeya-Seki.
Outubro de 1965, se não estou enganado.
Primeiro e mais belo.
Aliás, o único que realmente tinha cara de cometa.
Acordamos de madrugada, e lá estava aquele objeto deslumbrante no céu. Tal como vemos nas fotografias em livros e revistas.
O frio da madrugada me deixou com gripe. Foi o preço pago para ver o Ikeya-Seki. Mas valeu a pena. 55 anos se passaram, e estou eu aqui contando.
Em 1973, houve o Kohoutek.
Era uma promessa para o Natal daquele ano.
Diziam que ia desbancar o Halley, que passara em 1910 e voltaria em 1986.
Com suas cartas celestes (modelo BDCD, usadas para rastrear satélites artificiais nos anos 1960), meu pai acompanhou o Kohoutek usando seu modesto telescópio, na fase em que ainda não estaria visível com a vista desarmada.
Eu tinha 14 anos. Foram madrugadas inesquecíveis no fundo do quintal da nossa casa em Jaguaribe.
As observações, no entanto, logo mostraram o que sugeria a evolução do brilho do cometa: que ele não iluminaria as nossas noites natalinas, como de fato aconteceu.
Mas haveria 1986, desde sempre no nosso radar.
Era o ano da volta do Halley, o mais célebre dos cometas.
Ouvíamos os relatos impressionantes de 1910.
Minha avó materna, nascida em 1899, viu aos 11 anos em Bananeiras, quando a ausência de iluminação nas cidades ainda permitia ao homem ver o céu como ele de fato é.
O poeta Drummond, que era de 1902, viu aos oito anos e - claro - transformou a lembrança em poesia.
1986 chegou, e lá foi meu pai para o fundo do quintal, com seu pequeno telescópio e suas cartas BDCD.
Eu já tinha 27 anos. Fui junto.
O Halley ainda era aquele pontinho que se deslocava entre as estrelas.
Quando o brilho foi aumentando, chegaram as pessoas amigas, que nos visitavam na madrugada querendo ver o cometa.
Em sua fase de maior brilho, o Halley decepcionou.
Em 1986, ficou longe de repetir 1910 - me assegurou Dona Elvira, que testemunhou as duas vezes e iluminou nossa casa com a sua presença.
E chegamos ao Neowise.
É hoje. No máximo amanhã. Ou sábado.
Está mais perto da Terra, é verdade, mas está indo embora.
Parece não ter brilho suficiente para nos encantar.
Não é o único problema para os que querem vê-lo. Está muito próximo ao horizonte, logo depois que o Sol se põe.
E ainda há as nuvens do nosso inverno.
De todo modo, arrisquemos.
Os cometas são visitantes incríveis, vêm de muito longe e merecem a nossa reverência.
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